quarta-feira, 8 de agosto de 2007

LP / VINIL - HEARTBREAKERS - ELLINGTONÍA


LP - HEARTBREAKERS - ELLINGTONÍA

ESTUDIO ELDORADO

SERIE NACIONAL PRATA
149 89 0553


Luiz Macedo - Trumpet; Matias Capovilla - Trombone; George Freire - Alto Sax; Sergio Lyra - Tenor Sax; Xico Guedes - Baritone Sax; Jether Garotti - Piano & Clarinet; Beto Caldas - Drums; Guga Stroeter - Vibes


A retomada do jazz sem aspas é hoje uma das tendências mais significativas da musica instrumental internacional. Uma vez que os grandes mestres e o ambiente que os gerou já não existem, o acesso a esta estética especifica tem se tornado progressivamente um trabalho sistemático de pesquisa e interpretação.
Esse primeiro disco da orquestra Heartbreakers sintetiza a manifestação atual de um gripo de jovens músicos brasileiros que reconhecem no jazz uma das formas de expressão musical mais interessantes do século XX.
A moldura desse trabalho de resgate é a seleção adaptada de alguns fragmentos do repertorio do pianista, “band leader”, arranjador e compositor norte americano Duke Ellington (1899 1974). A amplitude e variedade de sua obra viabilizam ao ouvinte e aos interpretes um panorama bastante diversificado do gênero, pois a trajetoria do autor inclui desde a musica composta nos cabarés do Harlem nos anos 20 até as suítes da musica de concerto dos anos 60 e 70: Por isso, para o título do disco foi tomado por empréstimo o termo criado para conceituar os diferentes procedimentos do autor: Ellingtonia.
Alguns cuidados fizeram-se necessários para a recriação da Ellingtonia. Primeiramente, a tarefa minuciosa de reduzir os arranjos concebidos originalmente para uma big band de pelo menos 15 músicos, para a instrumentação peculiar do Heartbreakers. A preservação do colorido timbrístico e da qualidade das dissonâncias foram preocupações constantes. Outro ponto focalizado foi a depuração da execução com o intuito de alcançar um equilíbrio onde o Maximo de expressão individual dos músicos estivesse a serviço do estilo demandado pelo caráter da composição.
Não podemos perder de vista o fato de que os melhores trabalhos de Duke não foram criados a partir de idéias musicais, mas de imagens visuais e estado de espírito.
A faixa “HAPPY GO LUCKY LOCAL” (1946), por exemplo, é na verdade o quarto movimento da”Deep South Suíte”; e descreve “um maquinista negro numa pequena locomotiva, que apita para as suas namoradas cada vez que passa pela casa de uma delas”.
No caso da gravação desta faixa, procurou-se realçar a onomatopéia do apito nos instrumentos de sopro, enquanto o baixo e a bateria encarregam-se de reproduzir o ritmo pulsante das rodas nos trilhos.
Os trens exerciam fascínio sobre Duke. Nos anos 30 e 40, a banda viajava por todos os EUA num vagão Pullman, e a sucessão de paisagens foi uma importante fonte de inspiração para Ellington. Certa ocasião em 1939, a caminho da Califórnia, a composição pasava por uma região de colinas, quando Duke enxergou no contorno do relevo, a imagem de uma gigantesca mulher nua. Motivado por essa experiência, criou “WARM VALLEY” (Vale Morno) uma música intencionalmente erótica. A melodia é sensual é exposta pelo sax alto, seguida por um “tutti” enlevante, dentro da melhor tradição das orquestras de “swing” da época.
A terceira faixa do disco é a balada I GOT IT BAD (AND THAT AIN`T GOOD) – 1940 cantada por ZIZI POSSI. O solo de trombone cita a melodia de “Pedaço de mim”, de Chico Buarque, antes do final, onde a cantora e a banda permitem-se extravassar a mágoa represada na primeira parte da canção...
A faixa seguinte é “THE MOOCHE” (1928), um dos sucessos “Jungle Style” do período do Cotton Club. Na visão do Heartbrealers construiu-se um diálogo sombrio de criaturas noturnas imaginarias, personificadas no trumpete e no trombone, ambos com surdina. Clarinetes e pianos tornam-se personagens dessa cena que encerra com a tumbadora emitindo o pio de uma coruja improvável.
Encerrando o lado “A” temos “ROCKIN IN RHYTHM”. A composição data de 1929, mas o arranjo escolhido para a adaptação é de 1960. fazendo uso do recurso de gravação “over dub”, o Heartbreakers soa aqui como uma big band completa: alem de baixo, bateria, piano, vibrafone, as dobras de instrumentos somam 2 trumpetes, 2 clarinetes, 4 saxofones e 2 trombones.
O lado “B” abre com “SUNSET AND THE MOCKINGBIRD” (1959). Certa vez, numa estrada da Florida, Duke ouviu o canto de um pássaro e anotou a frase musical num pedaço de papel. Em torno dessa melodia construiu a orquestração, que contrapõe a repetição da melodia e uma harmonia sempre diferente.
Duke inclui a peça na “Queen`s Suíte”, dedicada a Rainha Elizabeth, na ocasião, prensou uma única cópia, presenteou a rainha e proibiu a edição do disco enquanto fosse vivo.
Na versão do Heartbreakers, a melodia original é interpretada pelo vibrafone. Em seguida, o clarinete de Jether Garotti constrói diversas variações. Na coda, vibrafone e clarinetecitam outras canções de Ellington, como “Mood Indigo” e “Solitude”.
Em 1939, depois de uma apresentação no Stanley Theatre em Pittsburgh, Ellington foi procurado nos camarins por um jovem que insistiu em mostrar no piano algumas de suas composições. O nome do rapaz era BILLY STRAYHORN e ele tocou “LUSH LIFE”. Duke ficou muito impressionado e o contratou imediatamente. Esse relacionamento artístico só foi interrompido pela morte de Strayhorn, EM 1967. Com o intuito de homenagear a empatia fértil dessa associação única na historia do Jazz, o Heartbreakers procurou alguma gravação dessa musica pela própria orquestra de Duke. Por incrível que pareça, essa gravação não existe ou não foi encontrada. Tornou-se então uma incumbência tentar preencher essa possível lacuna de sua obra. Para isso, foi convidado CARLOS FERNANDO, que alem de cantar e tocar celesta, criou o arranjo. Essa versão explora as intervenções de cada instrumentista como eventos independentes, que não se repetem. A riqueza estrutural da musica é trabalhada desde a introdução, que ganha autonomia ao ser tratada como um tema em si. O resultado incorpora referencias diversas: desde trumpetes mariachi até um violino com sotaque eslavo, para compor a instropecção que constitui a unidade interpretativa da gravação.
A terceira faixa de lado “B” é “SOPHISTICATED LADY” (1933). Segundo James Lincoln Collier, biógrafo de Duke e crítico de jazz do New York times, “a canção tem algo do sabor de uma mulher decadente curando suas desilusões num bar luxuoso”. Pensando em fazer jus ao titulo da canção, a sofisticação foi o critério para a seleção do material original. Optou-se então pela redução do 5º e 6º “chorus” da versão extendida da gravação de 1950, do disco “Masterpieces”. Neste arranjo intricado e erudito, a mais famosa melodia de Ellington aparece invariavelmente alterada ou diluída.
Em seguida temos a cantora MISTY (revelada no espetáculo musical Emoções Baratas), estreando no vinil interpretando o telúrico blues “I AIN´T GOT NOTHIN BUT THE BLUES” (1944)
Para finalizar uma composição de 1971, TANG, que é a parte da suíte Afro Eurasian Eclypse. Nesse período, Duke trabalhou as influencias adquiridas em suas recentes turnês pela Ásia e África; e na versão do Heartbreakers a percussão e a bateria foram recriadas para obter um certo orientalismo cosmopolita capaz de sustentar a exótica melodia conduzida pelo sax barítono.
Enfim, foi um grande prazer gravar este disco, pois para quem acredita que a obra de um artista trás consigo uma idéia do mundo, o trabalho passa a ser um previlegio.
Guga Stroeter


A
HAPPY GO LUCKY LOCAL
WARM VALLEY
I GOT IT BAD ANT THAT AINT GOOD vocal ZIZI POSSI
THE MOOCHE
ROCKIN IN RHYTHM
B
SUNSET AND THE MOCKINGBIRD
LUSH LIFE
SOPHISTICATED LADY
I AINT GOT NOTHIN BUT THE BLUES
TANG
COMPRAR

Nenhum comentário: