quinta-feira, 5 de junho de 2008

LP MISSA DOS QUILOMBOS MILTON NASCIMENTO 1982 ARIOLA

LP MISSA DOS QUILOMBOS
1982
ARIOLA 201649
MILTON NASCIMENTO - PEDRO CASALDALIGA - PEDRO TIERRA
Arranjo e Regência: MILTON NASCIMENTO
GRAVADO AO VIVO NA IGREJA DE NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS CARAÇA, M.G. EM MARÇO 1982
Part. Flavio Venturini


Em nome de um Deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e a morte. No Brasil, na América, na África mãe, no Mundo.
Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barato os canaviais e as minas e encheram as senzalas de individuos desaculturados, clandestinos, inviáveis. ( Enchem ainda de sub-gente - para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos - as cozinhas, os cais. os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).
Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinai Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome de Deus de todos os nomes", "que faz toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".
Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exilío da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.
E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões - em casa, na rua, no trabalho na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança.
Para escândalo de muitos fariseus e para alívio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã.
Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares."
E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do Homem "sem figura humana", sacrificado pelos poderes do Império e do Templo, mas ressucitado da Ignomínia e da Morte do Espírito de Deus, seu Pai.
Como toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e a Ressureição do Povo Negro, na Morte e Ressureição do Cristo.
Pedro Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra, iradamente fraterna, à causa dos Povos Indígenas, com a "Missa da Terra sem males", emprestamos agora a mesma palavra à causa do Povo Negro, com esta Missa dos Quilombos.
Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos: "os Negros da África, os Afros da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da Terra".
Pedro Casaldáliga


Novembro de 1981. Eu estava lá no Recife, vendo e ouvindo tudo. Pele e pelos arrepiados. Dom Helder, Dom Pedro e Dom Zumbi denunciando os crimes cometidos contra os negros do Brasil e conclamando a todos a criar uma nova história. A música de Milton Nascimento ganhava a praça, as pedras, as pessoas. O povo estava alí inventariando o passado para fazer presente o futuro mais justos. No dia Nacional do Negro e aniversário da morte de Zumbi, brasileiros se uniam em torno de música, palavras, crenças e idéias. Éramos todos participantes de um acontecimento inesquecível.
Tudo começara em Goiania, ou muito antes, pois se foi lá que conhecemos Dom Pedro Casaldáliga e pela primera vez se falou em missa dos quilombos. Muitas coisas já se passara em nossas vidas para tornar este encontro inevitável.
Gente da cidade grande, há muito tempo acompanhávamos com admiração o trabalho de Pedro - assim ele quer que o chamemos. E ele, mistério e beleza da comunicação de energia entre as pessoas, também estava de olho em nós. "Quando, lá em São Félix do Araguaia, me sinto acuado, sem ânimo, e ouvindo sua música que busco energia para continuar meu trabalho", confessou ele pro Milton. Tanto que já escrevera, há anos, um belo poema sobre a canção do sal.
Arquitetura de passarinho: assim me expressei sobre aquela figura franzina, um contraste diante do vigor de suas atitudes, da energia da defesa de sua crença e de seus ideiais de justiça. Tinha que ser um passarinho o nosso Bispo. Em Goiania ele nos fez conhecer pessoas como Pedro Tierra, seu parceiro, poeta e homem de muita luta. E os jovens músicos gaúchos e paulistas, que lá estavam para participar da "missa da terra sem males" - espetáculo, religioso, humano, poético e desesperado em favor dos nossos indios.
Ele nos fez conhecer um outro Brasil, nos pôs em contato com varias nações indígenas e nos envolveu num clima de paz e harmonia que eu chamaria de comunhão. Foi nesse ambiente, em meados de 1980, que os dois Pedros nos falaram do projeto missa dos quilombos, idéia sugerida por Dom Helder Câmara. Voltamos para casa certos de que, como na nossa música qualquer dia a gente voltaria a se encontrar.
Após um ano de muita pesquisa, páginas e mais páginas escritas, uma infinidades de telefonemas, cartas e viagens, chegou-nos o texto dos Pedros: um grito revoltado, triste e consciente contra a violência sofrida pelos negros em nosso país, ao longo da história e nos dias de hoje, e um canto de esperança, uma convocação a luta pela mudança.
Instigado pelo texto, Milton Nascimento produziu então uma partitura de extraordinária beleza melódica e riqueza harmónica e ritmica.
Agora era reunir os amigos cantores e músicos para a celebração. Rapazes as moças de Belo Horizonte foram convocadas para o coro, enquanto Robertinho Silva trazia do Rio o fino pessoal da percussão. Fomos todos então pro Recife, comandados pelo nosso maestro (na vida e na música) MIlton Nascimento, Bituca primeiro e único.
Debaixo do abrigo carinhoso das irmãs Carvalhinho e Escobar convivemos três dias com gente que, do Brasil inteiro vinha assistir a missa e transmitir sua experiência de vida. Mais uma vez o clima de amizade e comunhão tomou conta de nós.
E o resultado foi este que eu estava falando. O que se viu e ouviu foi de arrepiar. Celebrantes, músicos, coro, maestro e povo compuseram, juntos, um espetáculo que comoveu até as pedras da praça do Recife.
Fernado Brant.


MISSA DOS QUILOMBOS
I A de Ó (ESTAMOS CHEGANDO)
Um Lado - Faixa 1
II EM NOME DE DEUS
Um Lado - Faixa 2
III RITO PENITENCIAK (KYRIE)
Um Lado - Faixa 3
IV ALELUIA
Outro Lado - Faixa 1
V OFERTORIO
Um Lado - Faixa 4
VI O SENHOR E SANTO
Outro Lado - Faixa 4
VII RITO DA PAZ
Outro Lado - Faixa 2
VIII COMUNHAO
Outro Lado - Faixa 3
IX LADAINHA
Um Lado - Faixa 5
X LOUVAÇAO A MARIAMA
Outro Lado - Faixa 5
XI MARCHA FINAL (de BANZO e de ESPERANÇA)
Outro Lado - Faixa 6
INVOCAÇAO A MARIAMA
Outro Lado - Faixa 6



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Porque é Imprescindível Sonhar

Um comentário:

jeysianne disse...

adorei a musica servio para aula!!bjos xau!!