segunda-feira, 24 de setembro de 2007




150 ANOS DE VIDA REPUBLICANA NA VENEZUELA

J.M. SISO MARTINEZ

2º Edição

Esta segunda edição da obra: 150 ANOS DE VIDA REPUBLICANANA VENEZUELA, de autoria de J. M. Siso Martinez, consta de 2.000 exemplares, todos fora de valor comercial. Terminou-se de imprimir aos 19 de junho de 1969 nas oficinas gráficas do Atelier de Arte, Rio de Janeiro, Brasil. C.G.C 33.212.689

Publicações da Embaixada da Venezuela no Brasil – n 3
Tradução de Regina Célia colônia

Sumario

A Revolução de 1810
O Dezenove de Abril
O Congresso de 1811
A Reação Realista
A Reação Republicana e a Guerra Mortal
Expedição de Morillo
Libertação da Nova Granada e Criação da Colômbia
O Congresso de Cúcuta
Vida Constitucional
A Terceira Republica
A Oligarquia Liberal e a Revolução de Março
A Guerra Federal
Governo Federal
A Autocracia Guzmancista
A Restauradora e o Século XX
Período Posterior a Gomes

A REVOLUÇÃO DE 1810

Os movimentos revolucionários do século XIX são um fato americano. Polarizam a atenção dos historiadores e sociólogos pela semelhança e homogeneidade com que ocorrem em todas as colônias. Suas causas são complexas, tais como o espírito de liberdade que atingiu sua mais alta expressão nos CABILDOS e os dedos sociais e econômicos ulterioresque, inseridos na grande evolução ideológica do século XVIII, deflagram o turbilhão revolucionário.

Na integração política e social da Colônia Venezuelana avulta uma nítida diversidades de interesses entre os CRIOLLOS e os iberos. Isto porque a Espanha concebia suas colônias como centros exclusivamente a serviço de sua fechada economia monopolista, que limitava o interesse comercial dos hispano-americanos. A metrópole exercia monopólio tanto no que respeitava as mercadorias, transporte e portos, quanto na proibição as colônias em estabelecer determinadas industrias ou mesmo manter comercio entre si.

No campo político, não era menor a repressão. Em conseqüência, os descendentes dos conquistadores, donos das grandes propriedades territoriais e, portanto, interessados em tomar parte na direção da coisa publica, afastam-se cada vez mais da Coroa.

Sobre este contexto histórico vai lavrar o grande incêndio revolucionário do século. As idéias dos enciclopedistas franceses, de outra parte, contribuem para acelerar a evolução ideológica, não só nas colônias americanas mas na própria Espanha. Propiciam as classes mais cultas uma doutrina a que vincular seus propósitos separatistas e chegam, de forma vaga, a contagiar as próprias classes subjugadas, como no caso da insurreição de Coro, protagonizada por José Leonardo Chirinos. Por outro lado, a Revolução norte-americana representa um exemplo que serve de incentivo aos colonos, pois se dão conta de que seus irmão do Norte tinham sido capazes de levar avante uma guerra de libertação nacional e criar o primeiro Estado filho dos princípios revolucionários de seu tempo.

Entretanto, as causas que determinam e aceleram o processo serão de ordem interna, aproveitando a conjuntura internacional determinada pela invasão napoleônica da Espanha. São testemunhos disto as series de inumeráveis agravos que as colônias apresentaram a Metrópole, compendiadas em 1817 pelo venezuelano Manuel Palácios Fajardo...

A intrincada política européia que resulta da expansão napoleônica será a determinante do movimento emancipador americano. A renuncia de Carlos IV em favor do Imperador dos franceses e a ascensão ao trono espanhol de Jose Bonaparte, deflagra a tormenta, na Espanha e na América. A nação espanhola não reconhece o usurpador e, no dia 2 de maio, o povo madrileno se levanta em armas e um poderoso movimento se alastra por toda a Espanha, organizando juntas que se encarregam do governo e da resistência. Entre as demais adquire singular importância a de Sevilha, que proclama os direitos de Fernando VII, o filho de Carlos IV.

Os acontecimentos da Península repercutem profundamente na Capitania Geral da Venezuela. Paul Lamanon, enviado com a missão de fazer reconhecida a autoridade de Jose Bonaparte, é ignorado e, como conseqüência de sua vinda, é jurada lealdade a Fernando VII. Os mantuanos aproveitam-se deste fato para propor ao Capitão General, Juan de Casas, a formação de uma junta similar as constituídas na Espanha. Apesar das evasivas de Casas, os nobres CRIOLLOS, tendo a testa Antonio Fernandez de Leon, se decidem a concretizar a idéia.....


O DEZENOVE DE ABRIL

O dia 19 de abril é a conseqüência lógica de todo o processo. O AYUNTAMIENTO venezuelano assume o controle político da situação, contando também com representantes dos pardos, do povo e do clero, o que lhe confere um caráter verdadeiramente revolucionário. A ata de 19 de abril é documento genésico da emancipação venezuelana. Consagra a separação política ao ignorar o Conselho da Regência e ao constituir-se em Junta Suprema, depositaria do povo em orfandade....

A Junta Suprema adotou sua própria política exterior. Enviou Simon Bolívar, Luiz Lopez Mendez e Andrés Bello a Corte da Inglaterra; Telésforo Orea, Juan Vicente Bolívar e Jose Rafael REvenga aos Estados Unidos; Mariano Montilla e Vicente Salias a Curaçau e Jamaica; e o cônego Jose Cortes Madariaga a Nova Granada

A Regência espanhola, no entanto, dava-se conto do exato significado do dia 19 de abril. As províncias que haviam seguido o exemplo de Caracas, estabelecendo suas próprias juntas, foram declaradas em rebeldias e sobre elas se abateu o bloqueio econômico. Os venezuelanos foram declarados vassalos rebeldes....

O CONGRESSO DE 1811

Congresso de 1811 – a 2 de março de 1811 reune-se em Caracas o primeiro Congresso venezuelano. Os deputados representavam as províncias de Caracas, Margarita, Cumuná, Mérida, Barinas, Barcelona e Trujillo. Sua reunião coincide com um extraordinário movimento revolucionário cuja extensão pode ser aquilatada através das paginas dos periódicos de então como “El Semanario de Caracas”, “El Mercúrio Venezolano”, “El Patriota Venezolano”, “La Gaceta de Caracas”. Neles se propõe uma analise sem rodeios da sociedade colonial, defende-se a liberdade de culto, a tolerância religiosa, o estabelecimento do estado laico, o problema da igualdade social, introduzindo assim elementos desagregação até então estranhos a vasta maioria da sociedade colonial. ...

A REAÇÃO REALISTA

A Constituição promulgada e o advento do novo Estado não trouxeram a Republica ideal anunciada pelos revolucionários. Pelo contrario, deram largas as contradições sociais, políticas e econômicas que o regime colonial havia estruturado e mantido. A reação realista não se fez esperar, decorrente de motivos mais profundos que os de uma simples fidelidade monárquica. Abrange estímulos religiosos, políticos e profundos sentimentos sociais, que acabarão por subverter a aparentemente estável estrutura colonial...

A REAÇÃO REPUBLICANA E A GUERRA MORTAL

O não reconhecimento da capitulação alijou toda possibilidade de convivência entre republicanos e realistas. Assim o confirmam escritores de um e outro partido. Urquinaona considera que a causa da verdadeira sublevação foi “o ver infringidos os tratados, violadas as leis e aviltada a razão e a justiça, por meio de repetidos confiscos, detenções e desterros arbitrários”.O mesmo diz Bolívar em seu Manifesto de Cartagena: “Ao ver cumprir-se à capitulação nos termos em que o foi, quem não haveria de ter esperado a paz, o bem do povo, o esquecimento do passado, tantas vezes prometido?” Mas, quando Monteverde estabelece “a lei da conquista” abre caminho à guerra...
Com esta campanha, que a historia batizou de ADMIRAVEL, Simon Bolívar faz sua aparição política. Daí em diante ate o ano de 1830 a historia da Venezuela e de grande parte da América se confunde com a sua. Quando da capitulação de Miranda, dirige-se a Curaçaue dali a Nova Granada, onde oferece seus serviços militares ao governo nacional. Na cidade de Cartagena publica o célebre Manifesto de Cartagena.
Este é o primeiro dos grandes documentos políticos do Libertador. Nele realiza uma alentada e perspicaz análise das causas que determinam a queda da Primeira Republica venezuelana. Nele se revela um pensador político de primeira água. Nele se encontram as características que farão de Bolívar um dos maiores escritores políticos de seu tempo...

Conseqüências da guerra – em 1815, Bolívar atribuía a Boves a morte de mais de 80.000 pessoas. José Domingo Dias, o historiador realista calculava em 131.847 os mortos entre 1813 e 1816. um oficial da Legião Britânica orçava em mais de 200.000 os mortos da GUERRA E MUERTE. Afirma: “não é arriscado afirmar que nunca houve um período, em nenhuma idade nem país, de que a historia recorde mais premeditada carnificina, maior crueldade na aplicação de torturas, piores que a própria morte.”...

Toda a economia venezuelana é destruída. Nenhuma das cidades conta com recursos. A única riqueza que é o gado, começa a desaparecer na voragem coletiva. Só algumas regiões como Guayana, onde não chegou a guerra, podem constituir alguma reserva. Os documentos da época, tanto os oficiais como os privados, testemunham uma situação estarrecedora.

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