CONTINENTE SUL SUR
Revista do Instituto Estadual do Livro
Secretaria de Cultura do Rio Grande Do Sul
CORAG
ANO 1
1996
Nº 2
PERIODISMO CULTURAL NO CONE SUL
COLABORADORES
TANIA FRANCO CARVALHAL Periodismo, P.F. Gastal e o Caderno de Sábado
JOSE CASTELO A Cultura na tempestade
LUIZ RODRIGUEZ CARRANZA Argentina, años 90: el intelectual y los medios
ANTONIO DIMAS Um suplemento carnudo
WALTER GALVANI Abrindo uma janela
ANTONIO HOHLFELDT Jornalismo cultural: uma perspectiva
JAIME CIMENTI Criação e difusão no periodismo cultural
LISA BLOCK DE BEHAR Los medios y sus fines
JOAO CARLOS TIBURSKI O íntimo punhal na garganta da cultura
NOE JITRIK
EDUARDO ROMANO Reseña de una experiencia profesional y de investigación
MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO Poéticas contemporâneas: marcos para uma pesquisa
IR. ELVO CLEMENTE As revistas da Livraria do Globo
SILVIA MARIA AZEVEDO Joaquim Norberto: o nacional e a história
JUSSARA MENEZES QUADROS Primeiras impressões: romantismo e edição
SERGIO CAPPARELLI O campo híbrido do jornalismo e da literatura
MOACYR SCLIAR Jornalismo e literatura: a fronteira conflagrada
SERGIO ENDLER O folhetim moderno: informação e significado
MARIA CLARA BONETTI PARO Whitman nas traduções e periódicos brasileiros
MARIA LUIZA BERWANGER DA SILVA 1925, paisagem e memória
LEA MASINA Periodismo cultural no início do século
OSCAR STEIMBERG El suplemento cultural en los tiempos de la parodia
IVETTE BRANDALISE Investindo no drible
JOAO MANUEL DOS SANTOS CUNHA Cinema: as críticas e os limites de uma impossibilidade
PATRICIA LESSA FLORES DA CUNHA
GILDA NEVES DA SILVA BITTENCOURT
Embora aparentasse ser um imigrante europeu, João Fahrion nasceu em Porto Alegre, em 1898. descendia de família alemã. Ainda jovem mostrou grande sensibilidade para com as artes plásticas desenhando figuras, pintando paisagens e, mais tarde, experimentou as letras escrevendo poemas.
Através de uma bolsa de estudos oferecida pela Estado (na verdade financiada pela família) recebeu seus primeiros estudos em Berlim, em Muniche e Amsterdam com os mestres: Müller, Scoenfeld além do escultor italiano, Giuseppe Gaudenzi. De lá enviou trabalhos para o Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (1922), recebendo sua primeira Medalha de Bronze. De volta a Porto Alegre, em 1924, executou alguns murais e dedicou-se a litografia iniciando-se como ilustrador. Participou de vários Salões e Mostras, coletivas e individuais entre outros, do “I Salão de Outono” (1925), do “II Salão do Instituto de Belas Artes” em Porto Alegre (1940). “Um Século da Pintura Brasileira”, além de coletiva da “Associação Francisco Lisboa”, da qual fora sócio fundador, fazendo jus a premiações, inclusive Medalha de Ouro.
Como Professor ensinou Artes em Pelotas e em 1936 assumiu no então instituto Belas Artes de P. Alegre a Cadeira de “Desenho do Modelo Vivo”, alí permanecendo até a sua aposentadoria. De temperamento introvertido e extremamente sensível, possuía uma invejável cultura – mas era de pouco falar. Encontrando na Arte sua forma de comunicar-se, Fahrion foi, seguramente, mais do que professor, um verdadeiro artista.
Desenhista por excelência, teve uma longa carreira como ilustrador deixando com seu traço inconfundível, desenhos e litos em diversas publicações, páginas de jornais e revistas, além de edições literárias da antiga Livraria do Globo: de livros infantis à obras de Érico Veríssimo.
Sua trajetória na pintura caracterizou-se por uma linguagem que o coloca bem próximo do “art déco”: a presença do desenho é uma constante que pela linha firme dos contornos, quer pela pincelada larga e rápida. Assim foi ao pintar as ruas de Porto Alegre e ao restaurar figuras de nossa sociedade; assim foi ao criar grandes composições para painéis e cenários como também nos auto-retratos que realizou em épocas diferentes.
Mas foi principalmente na sensualidade da figura feminina – fantasiosa ou desnuda – que João Fahrion melhor deixou sua personalidade artística, dando aos seus modelos no dizer de Luiz Carlos Lisboa “...uma formosura que jamais passa da moda”.
Yone Soares de Lima
Pois é Laguna está morrendo, todo mundo vai s'embora, rumo desses campos do SUL.
Érico Veríssimo, in O Tempo e o Vento – O continente I
(...)preséntate de nuevo la selva, a merced de algún río que la favorece, hasta que, al fin al SUR, triunfa la pampa(...)
Domingo Faustino Sarmiento, in Facundo.
PERIODISMO, P.F. GASTAL E O CADERNO DE SÁBADO
Tania Franco Carvalhal
De 26 a 28 de junho deste ano, realizou-se em Porto Alegre o Colóquio Internacional “O Periodismo Cultural no Cone Sul”. Reunindo pesquisadores sobre o tema, jornalistas atuantes em várias áreas culturais e estudantes de Letras e Ciências da Comunicação, foi organizado pelo Instituto Estadual do Livro, órgão da Secretaria de Cultura do Estado, com a participação do Instituto de Letras da UFRGS, contando também com docentes de outras universidades como a UNISINOS, PUCRS e UFPEL e o apoio de órgãos financiadores de pesquisa, CNPq e FAPERGS. O Museu Hipólito José da Costa, que possui o melhor acervo de periódicos do Estado, entendeu a afinidade da proposta e sediou o evento.
Cabe ressaltar no conjunto das contribuições, a presença de pesquisadores que vieram de países como o Uruguai, a Argentina, também da Bélgica e de outros lugares do país, para, em conjunto com colegas do Rio Grande do Sul, discutir o tema do “Periodismo Cultural no Cone Sul”. Foi a presença desses participantes e o interesse do público que asseguraram a importância do Colóquio, garantindo a troca de experiências e o intercâmbio de idéias durante três dias. Com efeito, confrontar idéias, critérios, situações históricas, contextos culturais foi, certamente, o objetivo central que congregou a todos.
Através desse confronto, buscou-se a integração cultural, entendida como o reconhecimento das diversidades, a aceitação das divergências e a noção básica de que o conhecimento do que nos é próprio passa pelo conhecimento do que nos é alheio...
A CUTURA NA TEMPESTADE
José Castello
O impasse do jornalismo cultural brasileiro, hoje, é o impasse do jornalismo. Estamos todos imersos, às portas do século 21, em uma tempestade de informações. Satélites, fax, computadores, cadeias planetárias de notícias, tvs a cabo, Internet: fomos transformados em pequenas aranhas, cheias de pernas e conexões, grudados à grande teia da informação instantânea. Não há como dela escapar e toda negação dessa realidade se torna, apenas, uma forma de cegueira, para não dizer burrice.
A imprensa brasileira ainda reage com lentidão a essa nova atmosfera e, por vezes, parece sufocar. Temos algumas raras experiencias isoladas que merecem registro. Tenho a sorte pessoal de participar de uma delas, sob o comando do jornalista Evaldo Mocarzel, editor do “Caderno 2” de O Estado de S.Paulo. Gosto muito de pensar a partir de minhas experiências particulares – por mais que isso, muitas vezes, possa ser confundido com o narcisismo exacerbado e uma visão curta do mundo. Acredito ao contrário, que profunda é a experiência que se passa sob nosso nariz. A grandeza – se é que a podemos desejar – está na maior parte das vezes, guardada em nosso próprio quintal....
ARGENTINA, AÑOS 90: EL INTELECTUAL Y LOS MEDIOS
Luiz Rodríguez-Carranza
El contexto latinoamericano en los años 90 está marcado por los procesos de democratización que tuvieron lugar en los diferentes países del continente. Los "milagros económicos" de los años setenta y ochenta nos sumieron definitivamente en la deuda externa, y la población urbana creciente se ve confrontada a una progresiva pauperización. El espacio institucional abierto después de la caída de las dictaduras militares creó grandes expectativas: pero la creciente desigualdad social y la marginalización, las economias paralelas y el mercado de la droga no encontraron explicaciones aceptables ni soluciones en el neoliberalismo de las élites gobernantes. La desilusión respecto a sus propias posibilidades de ingerencia planteó entonces como tarea urgente para los intelectuales la discusión de los significados y posibilidades de la democracia.
El tema, desde luego, no es nuevo en la historia de los intelectuales argentinos. Desde fines del siglo XIX "la emergencia del nuevo sujeto social constituido por las multitudes" fue vinculada directamente "con el fenómeno inmigratorio y la cuestión democrática" (Terán 1993:45), Los "pensadores" encontraron su misión en la construcción de nuevos referentes de adhesión y consenso en el mundo secularizado de la modernidad. El objetivo central fue evitar la "desintegración". Los términos de la ecuación que regiría todo el siglo XX, dice Terán, ya están planteados: cómo integrar sin desintegrarse? cómo coordinar la pluralidad y la colectividad en la sociedad, la multiplicidad de "pueblos" diferentes y concretos que cuestiona la soberania popular construída en el papel?
Ahora bien, si la ecuación sigue siendo la misma después de un siglo, la confianza en las posibilidades concretas de una práctica intelectual en el marco de la democracia ha sufrido reveses. Las estrategias de ingerencia ha sido muy diferentes, y se han adaptado a las condiciones políticas e ideológicas coyunturales. Lo que parece evidente, de todos modos, es que "la mayoría de los intelectuales, artistas y pensadores argentinos no puede renunciar definitivamente, sin grandes conflictos, a influir en la vida de su comunidad" (Maresca, 1993: 482). La situación actual, sin embargo, no parece permitírselo: el discurso neoliberal los excluye; el discurso posmoderno los declara superfluos. Una segunda tarea se les impone entonces, tan importante - porque de ella depende su propia existencia - como la de las posibilidades de la democracia. La tarea de preguntarse, una vez más, para qué sirven....
UM SUPLEMENTO CARNUDO
Antonio Dimas
Quando me convidaram para falar neste seminário sobre jornalismo cultural, revistas e suplementos literários, solicitei aos colaboradores que me permitissem uma breve recordação pessoal. Há tempos que eu esperava uma oportunidade como esta para fazer um agradecimento público, reconhecendo a importância de um suplemento literário na minha formação, em particular, e , acredito, na minha geração.
No entanto, antes de incursionar por essa lembrança, preciso delimitar alguns marcos de tempo e de espaço, para que esta introdução ganhe contornos mais claros diante de um público distante das referências de que tratarei hoje.
Ao contrário da grande maioria dos meus colegas da Universidade de São Paulo, formei-me no interior do Estado, numa cidade a mais de 400km da capital, numa época em que se começava a pôr em prática a descentralização do ensino superior em São Paulo. Isso foi nos anos 60 e a cidade chamava-se Assis. Numa época em que as ferrovias brasileiras ainda eram visíveis, aprendemos, na escola primária, a nos referirmos às regiões paulistas em termos de Mogiana, Sorocabana, Paulista, Noroeste, Araraquarense, etc. Assis ficava na Alta Sorocabana, cerca de 12 horas de trem de São Paulo. O melhor deles era o de luxo, trem de aço que despejava passageiros na cidade por volta de 8 horas da manhã, quando não ocorriam os atrasos sistemáticos e exasperantes. Pois bem. No final dos anos 50, por um desses “passes de mágica” que acontecem de vez em quando no Brasil, Assis e outras cidades paulista como Franca, Marília, Araraquara e Presidente Prudente, foram premiadas com uma faculdade. De repente não se sabe como, caiu uma Faculdade de Letras em Assis, terra de boiadeiro, terra de café, um lugar muito mais indicado para uma escola superior de agronomia ou veterinária do que para um centro de Humanidades. De repente, não mais que de repente, um governador correto, um politico local e um professor bem intencionado deram-se as mãos para a criação daquilo que viria a se tornar, em breve e por breve tempo, um centro de referências no ensino de Letras deste país, por vários motivos. Pela excelência do seu corpo docente, por exemplo: pelo tempo integral obrigatório a que eram submetidos professores e alunos; pela seleção criteriosa do acervo bibliográfico; pelas instalações privilegiadas do equipamento físico; pelo cuidado intenso e regular acerca da publicação acadêmica, o que deu origem a uma REVISTA DE LETRAS de padrão elevado....
ABRINDO UMA JANELA
Walter Galvani
O depauperamento dos espaços destinados à Cultura teve a ver em Porto Alegre, capital do Rio Grande de Sul, este estado que se quer apresentar como importante parcela brasileira do projeto do Mercosul, com o empobrecimento dos próprios meios de comunicação social. Se é verdade que aí estão operando aparentemente prósperos negócios no ramo da televisão, do rádio e do jornalismo impresso, também é certo que a falta de valor econômico, talvez por desconhecimento da real essência das questões por parte dos agentes da sociedade, não garante ao fato cultural, neste mundo de negócios, um espaço proporcional ao seu significado real.
O lazer tem o primeiro lugar, dividindo entre esporte, música popular, opções de divertimento ou ocupação do tempo livre, a disponibilidade de espaço, que ainda partilha com a informação jornalística dos fatos do dia que comparece travestida de violência com embalagem colorida. Há o espaço político que se estende ou se fecha, de acordo com os interesses que manuseiam a cortina do grande palco.
Esta é uma bela capital, com uma tradição européia, diz-se, advinda das correntes imigratórias que nela confluíram, onde vigora uma alta média, a maior do Brasil, de índice de leitura de jornais, mas que foi atingida por uma bela crise nos anos oitenta que devastou-lhe um dos pilares, levando para falência a mais antiga e tradicional empresa da área de comunicação social. Passada a ressaca, restaram na “mídia” tradicional, apenas três jornais: um deles, O JORNAL DO COMERCIO, dedicado a um segmento específico (Indústria, comércio e serviços); o outro, o antigo CORREIO DO POVO que reapareceu depois de 26 meses de interrupção com o formato reduzido de standard para tablóide e confinado a um número reduzido de páginas; e outro, a ZERO HORA, com anunciada pretensões nacionais, mantendo um “Segundo Caderno”, mas com pletora de espaços comerciais e funcionando como um veículo de mercado...
Tienda Cafe Con Che: musica, literratura, et caetera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário