quinta-feira, 27 de março de 2008

PORTINARI O MENINO DE BRODOSQUI LIVRO


PORTINARI, O MENINO DE BRODOSQUI

Texto de Candido Portinari: retalhos de minha vida de infância. Apres. João Candido Portinari. Org. e consult. Técnica Projeto Portinari. Apoio Cult. O Boticário

2º Ed. São Paulo, 2001

96 p. 23 x 22 cm il.



PREFACIO

...Não há cidadania sem memória
E não há memória sem arte...
...A arte é o espelho da pátria. O país que não preserva
Os seus valores culturais verá a imagem de sua própria alma.
Chopin

... A açao é a mãe da esperança...
Pablo Neruda

Este livro é uma nova edição da original, publicada em 1979, primeiro fruto do Projeto Portinari, que então ensaiava os seus primeiros passos. Naquela ocasião, contamos com a sensibilidade e competência da já lendária Edições Alumbramento – cujo extraordinário legado ao País justificará todos os elogios – obra de Salvador Monteiro e Leonel Kaz. A edição original esgotou-se rapidamente e, durante todos esses anos, acalentamos a esperança de um dia refazermos aquele trabalho, colocando-o dessa vez ao alcance do grande publico.
Esta oportunidade surgiu agora, de nossa aproximação recente e também da crescente sinergia do mundo de Portinari com O Boticário, empresa brasileira modelar, exemplo de excelência, responsabilidade social e cidadania. Em um país onde via de regra as edições artístico-culturais ainda andam pela casa dos poucos milhares de exemplares, surge O Boticário para viabilizar uma tiragem de 40 mil exemplares, distribuídos por todo o território nacional e em Portugal. Nossos comprimentos ao Dr, Miguel G. Krigsner, a Silvana Cassol, a Claudia Ciszevski, a Andréa Pascale e a valorosa equipe que tornou concreto o verso de Drummond:

...as coisas findas,
Muito mais que lindas
Essas ficarão...

Hoje quero revisitar com você, caro leitor, a carta - prefacio à edição original, que terminava com uma promessa:

...Voltei então para te buscar e, com você, buscar a nossa terra.
Buscar a tua infância, neste diário que só hoje pude ler,
Pela madrugada deste dia dos pais de quarenta anos de filho.
Estes “Retalhos de Minha Vida de Infância” me tocam muito fundo.
Não apenas como filho, mas como brasileiro.
Retalhos que, costurados vida a fora pelo fio mágico do teu pincel
Pintaram o Brasil, nos pintaram a nós todos.
E é como brasileiro que me sinto no dever de trabalhar para que todos possamos nos reencontrar
Com tua obra e, através dela, com nós mesmos.
Então, se este trabalho frutificar, poder te dizer, como naquele retrato dos vinte anos:

Para o Papa, com o abração do João.

Tenho hoje a alegria e o orgulho de reportar que foram 22 anos cumprindo fiel e cotidianamente – em todos os instantes, em ação e pensamento – o compromisso que, publicamente assumi, perante meu pai e perante meus País, naquela carta - prefacio. Missão cumprida. As vésperas do Centenário de Portinari (1903 – 1962), sua obra hoje esta a salvo, toda ela levantada, documentada, fotografada, catalogada e pesquisada, pormenorizada e exaustivamente pelo Projeto Portinari, que concebi naquela ocasião, e implantei, junto com Christina Gabaglia Penna, nossa querida diretora técnica, e nossa pequena mas corajosa equipe, alem do apoio de muitos amigos e pessoas, físicas e jurídicas,uma solidariedade maciça e notável de toda a sociedade brasileira em prol de um resgate cultural sem precedentes, mesmo a nível internacional. Por ser impossível cita-los todos aqui, dirijo-lhes este agradecimento, também em nome de todos os meus companheiros de Projeto Portinari, na pessoa daquele que sempre gostamos de considerar “o pai” do Projeto Portinari, o nosso querido amigo Jose Pelúcio Ferreira, a quem a Ciência e a Tecnologia brasileiras tanto devem. Sem o apoio decidido e o estimulo constante do Pelúcio, `a época presidente da FINEP, o Projeto Portinari possivelmente não teria se concretizado.

Quando iniciamos o nosso trabalho, uma espessa nevoa ia cobrindo a memória de Portinari. Ao final da década de 1970, quase vinte anos após sua morte, desconhecia-se o paradeiro da maioria dos seus trabalhos. Nunca fora realizado exposição retrospectiva de sua obra, não havia um catalogo geral de sua produção artística, nem local onde publico pudesse apreciar uma mostra representativa da vasta síntese da terra e da vida brasileira que constitui o seu legado. Todos os livros sobre sua obra e vida estavam esgotados, e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) possuía mais informações sobre Portinari do que todas as instituições brasileiras reunidas. Distorções sobre sua vida e obra, fornecidas pelo difícil acesso as fontes primarias, iam insidiosamente procurando substituir a verdade dos fatos. Certos setores de nossa “intellegentsia” (ou seria mais apropriado neste caso chama-la de “burritsia”? O futuro saberá julga-los...) julgando-se talvez investidos da revolucionária missão de reescrever historia do Brasil, empenhavam-se e o fazem ainda hoje, no afã inglório ( e a cada dia mais inútil...) de amesquinhar a imagem de Portinari e de muitos de seus companheiros de geração.
Naquela ocasião, o jornal O Globo publicou extenso artigo, com o titulo:

Portinari, o pintor: um famoso desconhecido.

Nele, o repórter indagava:
Mais de 95% da obra do maior pintor brasileiro contemporâneo esta hoje inaccessível o publico, guardado em coleções particulares. O que foi feito de um trabalho de um homem que, durante toda a sua vida, exprimiu emocionalmente a alma, o povo e a vida brasileira?

Antonio Callado, biógrafo de Portinari, indagava também:
Segregado em coleções particulares, em salas de banco, Candinho se vai tornando invisível.
Vai continuar desmembrado o nosso maior pintor, como Tiradentes que pintou?...
O Brasil não pode permitir que continue inacessível o publico este monumental livro de arte que ensina os brasileiros a amarem a sua terra.

E estamos falando do pintor sobre quem René Huygue, curador-chefe do Museu do Louvre e um dos maiores historiadores de arte de todos os tempos declarou:
Considero Portinari um dos maiores pintores de nosso tempo. Sua força é enorme. Na manha em que vi o conjunto de suas telas experimentei tal emoção que fiquei possuído de uma verdadeira fadiga nervosa.
Nessa tarde não pude trabalhar: achava-me realmente cansado.

Mais tarde Callado escrevia sobre o Projeto Portinari:
...Na casa do arquitecto francês Grandjean de Montigny, há um trabalho de amor e técnica que fixa para a posteridade a obra de Portinari...esforço único no Brasil. Nunca se fez nada tão completo, tão moderno, tão minucioso e, ‘last but not least’, tão coroado de êxito no Brasil. Não existe ainda, como eu gostaria que existisse, um grande museu Portinari, reunindo obras do pintor. No entanto, ainda que alguma catástrofe nos privasse da maioria delas, as fotos e slides delas, os esboços colecionados, os depoimentos acerca delas, as entrevistas, os recortes de jornal arquivados pelo Projeto Portinari bastariam para salvar do esquecimento a maior obra poética já realizado por um brasileiro.

Hoje temos levantado mais de 5 mil obras (entre pinturas, desenhos e gravuras) e 25 mil documentos (recortes de periódicos, cartas, catálogos de exposições e leiloes, monografias, livros e textos avulsos, fotografia de época, filme e gravações, cartazes e memorabilia diversa, alem de 68 depoimentos completos – 130 horas de gravação, ainda inéditas – de contemporâneos do artista, registrado no decorrer de nosso programa de historia oral). Esta em operação um extenso web site, no qual, aos poucos, vai se tornando disponível para o publico, no Brasil e no exterior, todo o acervo reunido e pesquisado pelo Projeto Portinari. O programa “O Brasil de Portinari”, patrocinado pela Petrobras, e seus desdobramentos, entre os quais o “Se eu fosse Portinari...” que tem o apoio da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), há três anos percorre todo o território brasileiro, levando exposições de replicas digitais da obra do pintor, acompanhado de todo um programa interativo de arte-educaçao-cidadania às crianças da rede escolar do ensino fundamental e médio, presídios, favelas e hospitais. Pesquisas cientificas de ponta, geradas pelas necessidades da execução do Projeto Portinari, vem sendo desenvolvida por equipes multidisciplinares da universidade, envolvendo novas tecnologias e métodos, tais como rede neurais, algoritmo de classificação automática de objetos, de pinturas falsas, entre outras...

No dia da morte de Candido Portinari, Guilherme Figueiredo escreveu:
...O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria.
Pinta-la, não: cria-la de uma realidade ignorada, mostra-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegantes, opressa, inaugural, como a dizer-lhe: ‘Somos assim... ’
...Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sabias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade...

Este trabalho esta todo dedicado a Você, caro leitor e ‘usuario-final”, e principalmente a seus filhos e netos, e essas “mãos sabias do futuro”, que nele encontrarão ricas e fecundas fontes de inspiração e orgulho.
João Candido Portinari
Agosto de 2001

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