LP PIERRE DERVAUX BOLERO RAVEL
IMPERIAL
IMP 30036
PIERRE DERVAUX REGENDO L`ORCHESTRE DES CONCERTS COLONNE de PARIS
Através dos séculos, por entre as inevitáveis mutações de estilo e variabilidade dos gostos artísticos, a musica francesa logrou preservar o característico senso da medida, o gesto melódico expressivo e requintado, a instrumentação precisa e clara pela contenção dos meios sonoros postos em atividade. No século XIX, em pleno romantismo, Camille Saint-Saëns (1835-1921) simboliza a maravilha a atitude “clássica”, “objetiva” do músico francês, por força do completo domínio da técnica instrumental, desdém pela dissonância gratuita, repulsa do exagero berlioziano da desenfreada corrida por efeitos orquestrais espetaculosos e bombásticos. Nascido em Paris e falecido em Argel, Saint-Saëns era dotado de prodigiosa memória e não menor capacidade de trabalho. Pianista, organista, improvisador notável, polígrafo nos domínios da literatura e da ciência, foi co-fundador da “Sociedade Nacional de Música” (1871) para o cultivo da musica absoluta, de que ele próprio deu exemplo, compondo enorme cópia de obras sinfônicas e cameristicas, diversos poemas sinfônicos, entre os quais “Dança Macabra”, op. 40 que representa o mestre em sua veia composicional mais admirável e expansiva. Inspirou-se numa poesia homônima de Henri Cazalis. Num campanário longínquo, soam compassadas as doze batidas da meia noite. A morte afina seu violino (a corda de mi esta meio tom abaixo!). principia a tétrica dança, “movimento moderado de valsa”em sol menor, solo de flauta no registro grave. A Morte tange a rebeca com entusiasmo crescente (“Largamente”). O segundo tema (si maior) é tratado langorosamente. Perpassa na orquestra reminiscência dos Dies Irae gregoriano. No epílogo, ambos temas contraponteiam num fortíssimo de tremenda potencia, ate que as trompas sugerem o raiar do dia. Um galo (oboé) canta ao longe. A sarabanda infernal se esvai por entre as campas. Silencio... a instrumentação compreende flautim, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, quatro trompas, dois trompetes, três trombones, baixo tuba, três tímpanos, bombo, pratos, triangulo, xilofone, violino solista e cordas.
Paul Dukas (1865-1935) figura entre os grandes compositores franceses. Nascido em Paris, produziu muita musica instrumental, a Sinfonia em dó maior, a opera “Ariana e Barba Azul”, o poema coreográfico “La Péri”. Mas seu titulo do gloria é o poema sinfônico “O Aprendiz de feiticeiro” (1897), inspirado na balada poética de Goethe “Derzauberiehring”, o qual, por sua vez, buscou motivo em “O Charlatão” de Luciano, satírico grego (1220-180 D.C.). Com perfeição absoluta, Dukas ilustra musicalmente os vários lances da balada, pedindo a partitura flautim, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, clarinete baixo, três fagotes, contrafagote, quatro trompas, dois trompetes, duas cornetas, três trombones, três tímpanos, bombo, pratos, triangulo, “Glockenspiel”, e cordas.
Claude Debussy (1862-1918), mestre eminente do impressionismo musical francês, nasceu em Saint-Germain-en-Laye e faleceu em Paris. Estudou no Conservatório Nacional, obteve o “Premio de Roma”, freqüentou círculos literários e artísticos, familiarizando-se com a poesia de Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Verlaine, cuja a influencia foi decisiva para a projeção integral de sua personalidade criadora, cultivando um estilo de profunda originalidade, aristocrático, harmonicamente requintado, instrumentação colorida, plena de efeitos inéditos, senso formal apuradíssimo, uma rítmica cambiante, movida por mil e um sortilégios. A música de Debussy “soa como algo vago, impreciso, indeterminado sempre, porem obediente a um plano de construção muito claro” (Caldeira Filho). Opõe-se frontalmente a desmedida grandiloqüência romântica, a hipertrofia sinfônica de Berlioz, Wagner, Bruckner, Mahler Strauss. Talvez o melhor exemplo da sugestiva, pundonorosa maneira debussysta seja o Prelúdio “A L`Après-midi d`un faune” (1892), inspirado na écloga homônima de Mallarmé. Uma flauta desacompanhada meditativamente sugere o lascivo devaneio do fauno, na solidão de uma tarde remançosa. O tema sobe e desce indolentemente (“doce e expressivo”) de dó sustenido e sol natural, indeciso entre mi e dó maior. Acorde nas madeiras, dialogo nas trompas, “glissandi” das harpas...tudo se desenvolve num clima expressivo remoto, misterioso. O clarinete toca uma escala por tons inteiros; trompas em surdina, vagamente sinistras... A orquestra se anima a pouco e pouco. Na tonalidade de ré bemol, surge voluptuoso tema, a expandir-se grandiosa, apaixonadamente numa figura em quiálteras das madeiras e trompas. Uma requintada elaboração temática prepara o final, com dois violinos em oitava fazendo contraponto de melancólica beleza, dissolvendo-se em pianíssimo as etéreas harmonias. A partitura abrange três flautas, dois oboés, corninglês, dois clarinetes, dois fagotes, quatro trompas, duas harpas, pratos e cordas.
Como se depreende, as três composições supra-referidas inspiram-se na literatura. Já “Bolero” (1927), a mais celebre composição sinfônica de Ravel, tem argumento especificamente coreográfico. Na grande sala de uma garagem espanhola, vê-se uma dançarina sobre rústica mesa. Admiradores entusiastas em volta. Com a dança, cresce a animação, que acaba num rodopio coletivo alucinante. Maurice Ravel (1875-1937) compôs “Bolero” para Ida Rubistein. Todavia, a celebridade desse longo, sensacional crescendo provem da sala de concertos. O “Tempo di ballo, moderato assai”, ¾, começa pianíssimo, enunciando a flauta o único tema, que será repetido incansavelmente. Há uma lógica implacável, uma rítmica de aço na utilização progressiva dos vários naipes instrumentais. Quando a orquestra troveja a toda força. Altera-se de repente a tonalidade de dó maior para mi maior, com efeito tremendamente explosivo. As figuras rítmicas obstinadas prosseguem martelando sem descanso, ate o abrupto acorde final. A instrumentação inclui flautim, duas flautas, dois oboés, oboé de amor, corninglês, dois clarinetes, clarinetes em mi bemol, dois fagotes, cotrafagote, três saxofones, tímpanos, caixa clara, pratos , gongo, celesta, harpa e cordas
Com apresentar estas quatro esplendidas composições sinfônicas, a “Imperial” se louva na cultura e no bom gosto do discófilo brasileiro, certa de que saberá ele distinguir tudo quanto de significativamente valioso este microssulco encerra.
Comentários por JOSE DA VEIGA OLIVEIRA (Da Associação Paulista de Críticos Teatrais: do Instituto Brasileiro de Filosofia; colaborador permanente de “Anhembi”, “Suplemento Literário” d “O Estado de São Paulo”, Divulgação.
SAINT SAËNS – Dança Macabra
DUKAS – O Aprendiz de feiticeiro
DEBUSSY – Prélude a l`après midi d un faune
RAVEL Bolero
IMPERIAL
IMP 30036
PIERRE DERVAUX REGENDO L`ORCHESTRE DES CONCERTS COLONNE de PARIS
Através dos séculos, por entre as inevitáveis mutações de estilo e variabilidade dos gostos artísticos, a musica francesa logrou preservar o característico senso da medida, o gesto melódico expressivo e requintado, a instrumentação precisa e clara pela contenção dos meios sonoros postos em atividade. No século XIX, em pleno romantismo, Camille Saint-Saëns (1835-1921) simboliza a maravilha a atitude “clássica”, “objetiva” do músico francês, por força do completo domínio da técnica instrumental, desdém pela dissonância gratuita, repulsa do exagero berlioziano da desenfreada corrida por efeitos orquestrais espetaculosos e bombásticos. Nascido em Paris e falecido em Argel, Saint-Saëns era dotado de prodigiosa memória e não menor capacidade de trabalho. Pianista, organista, improvisador notável, polígrafo nos domínios da literatura e da ciência, foi co-fundador da “Sociedade Nacional de Música” (1871) para o cultivo da musica absoluta, de que ele próprio deu exemplo, compondo enorme cópia de obras sinfônicas e cameristicas, diversos poemas sinfônicos, entre os quais “Dança Macabra”, op. 40 que representa o mestre em sua veia composicional mais admirável e expansiva. Inspirou-se numa poesia homônima de Henri Cazalis. Num campanário longínquo, soam compassadas as doze batidas da meia noite. A morte afina seu violino (a corda de mi esta meio tom abaixo!). principia a tétrica dança, “movimento moderado de valsa”em sol menor, solo de flauta no registro grave. A Morte tange a rebeca com entusiasmo crescente (“Largamente”). O segundo tema (si maior) é tratado langorosamente. Perpassa na orquestra reminiscência dos Dies Irae gregoriano. No epílogo, ambos temas contraponteiam num fortíssimo de tremenda potencia, ate que as trompas sugerem o raiar do dia. Um galo (oboé) canta ao longe. A sarabanda infernal se esvai por entre as campas. Silencio... a instrumentação compreende flautim, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, quatro trompas, dois trompetes, três trombones, baixo tuba, três tímpanos, bombo, pratos, triangulo, xilofone, violino solista e cordas.
Paul Dukas (1865-1935) figura entre os grandes compositores franceses. Nascido em Paris, produziu muita musica instrumental, a Sinfonia em dó maior, a opera “Ariana e Barba Azul”, o poema coreográfico “La Péri”. Mas seu titulo do gloria é o poema sinfônico “O Aprendiz de feiticeiro” (1897), inspirado na balada poética de Goethe “Derzauberiehring”, o qual, por sua vez, buscou motivo em “O Charlatão” de Luciano, satírico grego (1220-180 D.C.). Com perfeição absoluta, Dukas ilustra musicalmente os vários lances da balada, pedindo a partitura flautim, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, clarinete baixo, três fagotes, contrafagote, quatro trompas, dois trompetes, duas cornetas, três trombones, três tímpanos, bombo, pratos, triangulo, “Glockenspiel”, e cordas.
Claude Debussy (1862-1918), mestre eminente do impressionismo musical francês, nasceu em Saint-Germain-en-Laye e faleceu em Paris. Estudou no Conservatório Nacional, obteve o “Premio de Roma”, freqüentou círculos literários e artísticos, familiarizando-se com a poesia de Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Verlaine, cuja a influencia foi decisiva para a projeção integral de sua personalidade criadora, cultivando um estilo de profunda originalidade, aristocrático, harmonicamente requintado, instrumentação colorida, plena de efeitos inéditos, senso formal apuradíssimo, uma rítmica cambiante, movida por mil e um sortilégios. A música de Debussy “soa como algo vago, impreciso, indeterminado sempre, porem obediente a um plano de construção muito claro” (Caldeira Filho). Opõe-se frontalmente a desmedida grandiloqüência romântica, a hipertrofia sinfônica de Berlioz, Wagner, Bruckner, Mahler Strauss. Talvez o melhor exemplo da sugestiva, pundonorosa maneira debussysta seja o Prelúdio “A L`Après-midi d`un faune” (1892), inspirado na écloga homônima de Mallarmé. Uma flauta desacompanhada meditativamente sugere o lascivo devaneio do fauno, na solidão de uma tarde remançosa. O tema sobe e desce indolentemente (“doce e expressivo”) de dó sustenido e sol natural, indeciso entre mi e dó maior. Acorde nas madeiras, dialogo nas trompas, “glissandi” das harpas...tudo se desenvolve num clima expressivo remoto, misterioso. O clarinete toca uma escala por tons inteiros; trompas em surdina, vagamente sinistras... A orquestra se anima a pouco e pouco. Na tonalidade de ré bemol, surge voluptuoso tema, a expandir-se grandiosa, apaixonadamente numa figura em quiálteras das madeiras e trompas. Uma requintada elaboração temática prepara o final, com dois violinos em oitava fazendo contraponto de melancólica beleza, dissolvendo-se em pianíssimo as etéreas harmonias. A partitura abrange três flautas, dois oboés, corninglês, dois clarinetes, dois fagotes, quatro trompas, duas harpas, pratos e cordas.
Como se depreende, as três composições supra-referidas inspiram-se na literatura. Já “Bolero” (1927), a mais celebre composição sinfônica de Ravel, tem argumento especificamente coreográfico. Na grande sala de uma garagem espanhola, vê-se uma dançarina sobre rústica mesa. Admiradores entusiastas em volta. Com a dança, cresce a animação, que acaba num rodopio coletivo alucinante. Maurice Ravel (1875-1937) compôs “Bolero” para Ida Rubistein. Todavia, a celebridade desse longo, sensacional crescendo provem da sala de concertos. O “Tempo di ballo, moderato assai”, ¾, começa pianíssimo, enunciando a flauta o único tema, que será repetido incansavelmente. Há uma lógica implacável, uma rítmica de aço na utilização progressiva dos vários naipes instrumentais. Quando a orquestra troveja a toda força. Altera-se de repente a tonalidade de dó maior para mi maior, com efeito tremendamente explosivo. As figuras rítmicas obstinadas prosseguem martelando sem descanso, ate o abrupto acorde final. A instrumentação inclui flautim, duas flautas, dois oboés, oboé de amor, corninglês, dois clarinetes, clarinetes em mi bemol, dois fagotes, cotrafagote, três saxofones, tímpanos, caixa clara, pratos , gongo, celesta, harpa e cordas
Com apresentar estas quatro esplendidas composições sinfônicas, a “Imperial” se louva na cultura e no bom gosto do discófilo brasileiro, certa de que saberá ele distinguir tudo quanto de significativamente valioso este microssulco encerra.
Comentários por JOSE DA VEIGA OLIVEIRA (Da Associação Paulista de Críticos Teatrais: do Instituto Brasileiro de Filosofia; colaborador permanente de “Anhembi”, “Suplemento Literário” d “O Estado de São Paulo”, Divulgação.
SAINT SAËNS – Dança Macabra
DUKAS – O Aprendiz de feiticeiro
DEBUSSY – Prélude a l`après midi d un faune
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