domingo, 4 de novembro de 2007

LIVRO OS BORDEIS FRANCESES (1830 - 1930) LAURA ADLER



OS BORDEIS FRANCESES (1830 - 1930)
LAURE ADLER

COMPANHIA DAS LETRAS CIRCULO DO LIVRO

ISBN853320078 (CIRCULO DO LIVRO)
Titulo do Original: "La vie quotidienne dans les maisons closes, 1830 - 1930"

Elas aguardam o cair da noite. Ocultas nas casas, vestidas como bebês ou cubertas de musselina transparente, de pé atras das janelas iluminada pela luz do grande número vermelho, ou sentadas nas poltronas fundas do salão, esperam com paciência. A noite será longa. De botinhas altas e espartilho cavado, boca vermelha e olhos esfumados, descem até a rua e conquistam, com o passo lascivo e ao mesmo tempo alegre, o coração das cidades. Procuram os focos de luz, os cafés animados, os restaurantes abertos. Levantam um pouco a saia e lançam olhares. Algumas vezes, vão diretamente ao homem e, com voz carinhosa, falam de amor e de dinheiro. A brancura das anáguas, a beleza dos olhares. Circulação de desejos. Essas mulheres estão a venda e elas o dizem. Carne em oferta a troco de dinheiro. Sempre é possivel negociar. Os preços são livres. Dependem da hora, do aspecto e da amabilidade do cliente, do estado de espírito da moça.
No quarto, a cama ainda não está desfeita. No entanto, a noite ja vai adiantada. Da sala de refeiçoes chegam vozes, ruídos de copos se entrecochando. Ao redor da mesa, as mulheres estão abraçadas. Os homens, com ar embotado pelo cansaço e pelo álcool, olham-nas com excitação e gula enquanto elas trocam esses carinhos. Um deles sabe que vai ficar. Também espera com paciência. Imagina o momento em que estará nos braços daquela mulher para a qual entrega totalmente sua fortuna, honra e dignidade. Ele gosta disso. Gosta que falem dele nos jantares, nas pistas de corrida, nos salões, está queimando tudo o que conseguiu juntar por uma beleza que seus amigos adorariam possuir.
Nas galerias dos bailes, as luzes estão apagadas. Há apenas alguns clarões nas raras cervejarias onde as moças, exaustas pelo número de canecas servidas e pelo número de relações sexuais mantidas nos fundos da casa, cochilam sobre as banquetas. Na rua vizinha, o dono de um botequim fecha as cortinas e põe para fora os últimos clientes: um cáften e sua amante. Os dois voltam para um quarto de um hotel pequeno e triste. O homem não consegue andar direito, bebeu muito absinto. A moça parece apaziguada. Sabe que vai poder finalmente descansar o corpo sem ter de fingir o amor. Vai abraçar com ternura o amante, que logo adormecerá. Ao raiar do dia, vai soluçar silenciosamente em seus braços. A agonia da noite pode enfim cessar...
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