domingo, 24 de agosto de 2008

LP RAY CHARLES THE GENIUS AFTER HOURS ATLANTIC




LP RAY CHARLES THE GENIUS AFTER HOURS

ATLANTIC


ATCO LPAT 5009



A evolução de Ray Charles é uma anomalia sem paralelo no jazz moderno. Há quatro anos atrás, quando a Atlantic lançou nos EE.UU. O primeiro LP de Ray com título de “Rock'n'Roll”, seu sucesso ainda estava limitado às regiões atingidas pelo mercado do disco 78 rpm, e seu talento de tão variadas características era conhecido sòmente por alguns músicos, entre êles Quincy Jones que, tal como Ray Charles, estava vivendo em Seattle no comêço da década de 1950.
além de continuar a manter sua antiga audiência dos juke-boxes sulinos, para quem foram dirigidos seus primeiros sucessos de tom litúrgico, Ray Charles conquistou um mercado maciço que o identificou internacionalmente e de maneira quase exclusiva como cantor. Sob êste ângulo, sua carreira lembra a de Nat “King” Cole, pois foi justamente à frente de um grupo padronizado nas linhas gerais do trio de Nat Cole da década de 1940 que, por volta de 1949, Ray Charles encontrou seu verdadeiro estilo como instrumentista. Atualmente, entretanto, muitas pessoas que acompanharam seu desenvolvimento como cantor não se recordam ou mesmo desconhecem seu passado musicista. (Ray Charles já tocou profissionalmente quatro instrumentos: piano, órgão, saxofone e clarinete, estando constantemente em atividade como compositor e arranjador, utilizando para êsse fim de um sistema Braille de notação musical.).
As características atuantes no show-business dos EE.UU. Fizeram com que êsse desenvolvimento de canto, sobrepujando o musicista, se tornasse quase inevitável: além disso, uma identificação única na mente do público é mais importante para um artista que uma série de associações que podem confundir o observador casual. Felizmente, Ray Charles recusou-se a deixar que sua carreira fôsse orientada em uma única direção, a despeito das possíveis vantagens comerciais de tal processo, e a música contida neste álbum “A venda na Tienda Café Con Che” nos dá uma potente demonstração do acêrto dessa decisão.
Da mesma forma que outros músicos famosos tais como Armstrong, Teagarden, Waller e Cole, Ray Charles é essencialmente um músico de jazz e, secundàriamente, cantor. No seu caso, particularmente, parece haver um paradoxo neste dualismo: o público que o ouve tocar se surpreende com sua evidente absorção de tendências modernas e também com o fato de que como pianista êle é influenciado pelo bop enquanto que, como cantor, as influências preponderantes são o folklore e o canto litúrgico.
A explicação, porém, é simples: nenhum instrumentista desenvolve um estilo completamente amadurecido sem primeiramente adquirir certas raízes básicas na música de jazz, e muitos dos maiores talentos do jazz moderno são capazes de tocar de forma convincente em estilos antigos. A arte vocal no jazz está, outrossim, diretamente ligada a certas qualidades de timbre e sentimento, qualidades essas que não são tão importantes na execução de vários musicistas modernos. O artista de jazz generalmente canta de uma maneira mais simples, bem diferente de seus complexos solos instrumentais. Para citar um exemplo famoso: Dizzy Gillespie cantando blues em “Blues Chanté” é tão básico quanto se poderia desejar – o mesmo acontece com Ray Charles.
O blues é o elemento intrínseco dêste álbum, e o denominador comum de todos os músicos na volta às suas fontes primitivas. A faixa inicial “The Genius After Hours”, é um blues lento, iluminado pela procura subjetiva e por uma suave qualidade rítmica. “Dawn Ray” é também um blues de andamento moderado, enquanto “Joy Ride” apresenta solos pelo sax alto de Dave “Fathead” Newman, o trompete de John Hunt e o piano de Ray Charles. “Ain't Misbehavin” é a única faixa do lado A dêste LP que não entra na classificação “blues”. Trata-se principalmente, de uma oportunidade para que “Fathead” demostre sua habilidade ao sax alto, enquanto os “chorus” tocados por Ray Charles ecoam, subordinados ás suas origens jazzísticas e lembrando-nos, nos primeiros oito compassos, o impacto rítmico de Earl Hines.
O estilo é blues novamente na face B. “Hornful Soul”, o único arranjo vocal dêste álbum, nos mostra Ray Charles como solista dentro de uma tendência moderna, sôbre um tema também moderno em seu fraseado ainda que simples na sua base melódica. “The Man I Love”, uma das três faixas que foram usados músicos não pertencentes regularmente ao grupo de Ray Charles, demonstra em certos momentos o approach pouco ortodoxo de Ray ao padrão harmônico da canção e, em outros, sua estreita aderência à concepção original ao tema de Gershwin.
“Charlesville” é blues outra vez, e agora bem rápido, aparecendo em vários “chorus” o baixo tocado por R. Sheffield, bem como Ray Charles tocando igual a Count Basie e finalizando com um “twist” harmônico ainda que incongruente. “Music, Music, Music”, oferece-nos o exemplo de uma das eternas verdades do jazz, ou seja, qualquer canção pode ter um toque swing partindo-se de uma improvisação, correta e de uma base harmônica adequada.
Êstes aspectos revelam uma faceta importante e raramente observada de Ray Charles. Aqui está o auto-retrato de um indivíduo extraordinário que chegou à idade adulta órfão, negro e cego e conseguiu encontrar através da música um objetivo, uma carreira e por fim o triunfo.



A
THE GENIUS AFTER HOURS
AINT MISBEHAVIN
DAWN RAY
JOY RIDE


B
HORNFUL SOUL
THE MAN I LOVE
CHARLESVILLE
MUSIC MUSIC MUSIC




Tienda Cafe Con Che
Porque é Imprescindível Sonhar

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