Se, para alguns, o Brasil é um país sem memória, para outros, o fato de preservá-la contribuiu para que, cada vez mais, novas criações surgissem no cenário do futuro de nosso país.
O talento, a vontade e a criatividade dessas pessoas, forneceram a esta terra o que ela mais precisou: raça.
O brasileiro, mesmo desfalcado de sua história, não perde a vontade, a emoção de fazer história. É a inspiração que indica os seus caminhos.
Um sentimento fiel, que acompanha e contagia a ciência mais exata, que nos fez crescer e nos fará desenvolver ainda mais.
Parece estranho dizer que o trabalho de grandes nomes da música, das artes e do pensamento, tenha alguma coisa a ver com a tecnologia de ponta, com informática ou microeletrônica.
Mas existe uma ligação.
Porque o nosso trabalho também é feito com a mesma dedicação. o mesmo calor e a mesma vontade com que estas pessoas criaram estas canções inesquecíveis.
Quando falamos em tecnologia, falamos em tecnologia nacional de vanguarda e, também neste caso, estamos patrocinando a livre expressão dos brasileiros nas áreas de telecomunicações, controles de processo e informática.
Estamos criando condições para que técnicos do mais alto nível adquiram para si o que de melhor existe no mundo: a propriedade intelectual.
É desta forma que estes brasileiros, criativos e talentosos, começam a mostrar todo seu potencial, suas qualidades e seu bom senso.
Memória é o segundo disco de uma série que vem homenagear a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, registraram sua passagem por aqui,e , de maneira brilhante, mostraram como é importante acreditar no talento e nunca desistir de seus objetivos.
É isto que estamos fazendo. Amamos o que Fazemos.
Memória 2 é mais um exemplo disso, e que vai ficar na mémoria de todos nós.
Elebra.
LADO A
TRAVESSIA 1966
Com Milton Nascimento Rio de Janeiro 26/10/42, dele e de Frenando Rocha Brant, Caldas Novas Minas Gerais. Depoimento de Fernando Brant a Sinval P Leão, com arranjo original de Eumir Deodato para o Festival Internacional da Canção, fase nacional, realizado no Rio de Janeiro (Maracanãzinho outubro de 1967) adaptado para o disco por Luiz Eça.
Ainda universitário Fernando Brant ficou amigo de Milton Nascimento (o Bituca) que naquela época já era conhecido como compositor e músico.
Milton morava em São Paulo e Fernando em Belo Horizonte. Nos fins de semana, encontravam-se com bastante freqüência.
A história de “Travessia” começa com a chegada de Fernando a São Paulo para visitar o amigo, quando ele lhe apresenta a música desta composição, que ficaria famosa já a partir de sua primeira audição., por ocasião do II Festival Internacional da Canção.
Fernando que ainda não era letrista profissional, só aceitou fazer a letra de Travessia após muita insistência. Ainda bem que ele acabou aceitando. A música estourou mp II FIC marcando o inicio de uma parceria que vem produzindo desde então, uma série de sucessos como: “Beco do Mota”, “Outubro”, “Rosa do Ventre”, “San Vicente”...entre outros.
ESTÃO VOLTANDO AS FLORES 1961
Com Helena de Lima e Miltinho, gravada em 30 de julho de 1961, de Paulo Gurgel Valente de Amaral Soledade (Paranaguá Paraná 29/06/19).
Depoimento de Paulo Soledade a Persio Pisani.
Durante muitos anos afastado do Rio de Janeiro, por problemas de saúde, Paulo Soledade compôs essa música ao sair do hospital, após uma cirurgia.
“Estão Voltando as Flores” é uma espécie de homenagem a vida e a beleza das pequenas coisas. É a canção de um renascimento.
Após enorme dificuldades em encontrar alguém que se interessasse em gravar a música Paulo encontrou-se com Waltinho da Casa Tonelux (RJ), que em principio aceita gravá-la. No entanto, depois de algum tempo, Paulo convida Helena de Lima, que na época fazia enorme sucesso na boate cangaceiro (RJ).
O mais interessante porém, é que após tanta dificuldade “Estão Voltando as Flores” acabou não sendo gravada só por Helena de Lima já que Miltinho, encontrando-se no estúdio de gravação produzindo um dos seus discos, acabou participando também da gravação com uma excelente segunda voz em contracanto.
Fundador do Clube dos Cafajestes no Rio de Janeiro na década de 40, Paulo Soledade foi sempre um grande boêmio dono de boate, e compôs dezenas de músicas com parceiros famosos como “Poema dos Olhos da Amada” com Vinicius de Moraes, “Zum Zum” com Fernando Lobo
DISPARADA 1966
Com Zimbo Trio, de Teófilo de Barros Neto (Théo de Barros) Rio de Janeiro 20/3/43 e Geraldo Vandré João Pessoa 12/9/35.
Depoimento de Théo Barros a José Maury de Barros em 7 de julho de 1967.
“Disparada” foi apresentada pela primeira vez no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record , São Paulo, xom interpretação de Jair Rodrigues, Trio Maraia, Trio Mocotó e Trio Novo, este último composto por Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal e Airto Moreira. Mas tarde este grupo já com a participação de Théo de Barros, seria conhecido pelo nome de Quarteto Novo: o grupo instrumental mais importante em termos de música de raíz, com um tratamento harmônico e melódico totalmente revolucionario.
No festival “Disparada” dividiu o primeiro lugar com “A Banda”, de Chico Buarque de Hollanda.
A escolha da gravação com Zimbo Trio é uma homenagem a todos os músicos brasileiros, e principalmente aos integrantes desse grupo, que já ganhou todos os prêmios nacionais de música, assim como vários importantes troféus internacionais.
O Zimbo Trio toco pela primeira vez sob este nome e com os mesmos músicos que o integram até hoje, na boate Oasis em São Paulo, ao lado de Norma Bengel, em 17 de março de 1964.
Luiz Chaves Oliveira da Paz, Rubens Alberto Bersotti e Amilton Teixeira de Godoy gravaram um sem números de Lp´s, solo ou acompanhando cantores de sucesso. Eles são hoje um exemplo para toda uma geração da música popular brasileira, notadamente pelo esforço de divulgação da música instrumental, que culminou em 1973, com a Fundação do Centro Livre de Aprendizagem Musical, São Paulo.
NINGUEM ME AMA 1952
Com Iracema de Souza Ferreira (Nora Ney) de Antônio Maria Araújo de Morais (Recife 17/3/21 Rio de Janeiro 15/10/64) e Fernando de Castro Lobo Recife 26/7/15
Depoimento de Fernando Lobo a J.C Botezelli (Pelão) para a Rádio Excelsior (SP)
Fernando Lobo estudou piano com Capiba, pai do famoso compositor do mesmo nome, posteriormente violino, atuando também como crooner e violinista na orquestra Jazz Band Acadêmica de Pernambuco.
Parceiro de muitos sucessos de Antônio Maria, não teve na realidade nenhuma participação em “Ninguém Me Ama”. Esta música foi lançada justamente com “Preconceito”, em disco gravado por Nora Ney, esta sim de autoria de Fernando Lobo, foi apenas um acordo entre os dois, questão de amizade, já que Fernando Lobo e Antônio Maria se conheciam desde quando este último terminava o seu curso colegial no Colégio Marista do Recife.
Outro fato interessante é que a música que na opinião de todos faria sucesso “Preconceito”. Mas acabou acontecendo o inverso “Ninguém Me Ama” já teve mais de 30 gravações inclusive no exterior.
Fernando Lobo é autor e parceiro de várias músicas conhecidas, tais como “Chuva de Verão”, “Zum Zum”, “Nega Maluca” e seu parceiro tem uma das maiores discografias do Brasil, com músicas gravadas juntamente com Ismael Neto (“Canção da Volta”), Luis Bonfá (“Manhã de Carnaval”e “Samba de Orfeu”) entre outros.
PARA VIVER UM GRANDE AMOR 1972
Marcus Vinícius Cruz de Melo Morais Rio de Janeiro 19/10/13, 9/7/80 e Antônio Pecci Filho (Toquinho) São Paulo, 9/7/46.
Depoimento de Toquinho a Antônio Tores. Gravado em 24/10/72 por Toquinho, Trio Mocotó e Marília Medalha.
Toquinho iniciou sua parceria com Vinícius de Morais em 1969. No ano seguinte juntamente com Marília Medalha. Fizeram um show no Teatro Castro Alves, Salvador, Bahia e logo após foram para Buenos Aires, Argentina, apresentando-se na boate La Fusa.
Este foi o inicio de uma carreira conjunta que praticamente só terminou em 1980, por ocasião da morte do nosso saudoso “poetinha”.
“Para Viver Um Grande Amor” tem uma história longa que começou com o lançamento do livro de poesia do mesmo nome, por Vinícius em 1962.
O poeta se voltou a este fantástico tema em 1972, já então parceiro de todas as horas do Toquinho.
Apoiado pelos excelentes Trio Mocotó e Marília Medalha, Toquinho dá em “Para Viver Um Grande Amor” uma pequena mostra da imensidão do talento poético e musical da dupla de compositores brasileiros, que talvez melhor soube cantar o amor, os desejos e os sonhos de toda uma época da música popular brasileira contemporânea.
LADO B
MANHA DE CARNAVAL 1959Com Agostinho dos Santos, em gravação de 1959, de Luis Floriano Bonfá (Rio de Janeiro 17/10/22) e Antônio Maria Araujo de Morais (Recife 17/3/21 Rio de Janeiro 15/10/64)
Depoimento de Luis Bonfá a Ney Hamilton. Arranjo do Maestro Enrico Simonetti.
Luis Bonfá é um músico de grande sucesso nacional e internacional. Poderia inclusive morar fora do Brasil, tantos são os convites que recebe. Mas prefere é ficar mesmo é na sua casa da Barra da Tijuca, com seus cachorros e sua grande paixão, uma coleção de carros antigos que ele próprio restaura e mantém.
Sorte nossa, de seus parceiros e principalmente de nossa música.
“Manhã de Carnaval” foi composta em 1958, a convite de Marcel Camus para o filme “Orfeu Negro”, em parceria com Antônio Maria, autor de sucessos inesquecíveis, tais como “Quando Tu Passas Por Mim”, “Se Eu Morresse Amanhã”, “Suas Mãos”, entre muitos outros.
Muita embora esta música tivesse sido utilizada apenas em parte e somente no fim do filme “Manhã de Carnaval” foi um estrondoso sucesso internacional.
COPACABANA 1946
Com Farnesio Dutra e Silva (Dick Farney) Carlos Alberto Ferreira Braga (João de Barro) Rio de Janeiro 29/3/07 e Alberto Ribeiro da Vinha, Rio de Janeiro 27/8/02 – 10/11/1971.
Depoimento de Alberto Ribeiro a Dalma Fernandes Ferreira. Arranjo de José Briamonte.
Braguinha, como João de Barro é carinhosamente chamado, é um dos compositores mais prolíferos da música popular brasileira. E dos mais antigos também.
Estreou como compositor em 1930, com a música “Dona Antonha” gravado pelo famoso e querido Almirante, na Parlophon.
Em 1933 já fazia sucesso com suas composições, “Trem Blindado” e “Moreninha da Praia”; lançadas também por Almirante que o consagraram definitivamente como compositor.
Até hoje compõe assobiando as melodias, uma vez que jamais estudou música.
Teve parceiros famosos, como Noel Rosa, Lamartine Babo, Alcyr Pires Vermelho, fazendo todos os tipos de música, desde marchas de carnaval até sambas, marchas ranchos e um sem número de peças românticas, além de adaptação para histórias infantis com nomes famosos como Radamés Gnattali.
Um dos seus mais constantes parceiros foi Alberto Ribeiro, que conheceu em 1935 através do editor Alberto Mangione.
Alberto acompanhou Braguinha em vários sucessos como “Linda Mimi”, “Minha Terra Tem Palmeiras”, “Touradas de Madrid” entre dezenas de outras composições.
“Copacabana” foi realizada em 1946 para o filme de Wallace Downey do mesmo nome.
Esta composição marcou o inicio do gênero musical conhecido como samba canção no Brasil, assim como da carreira de Dick Farney em nosso país, como intérprete afinadíssimo e sensível de algumas das mais belas canções da música popular brasileira.
MASCARA NEGRA 1967
Com Paulo Artur Mendes Pupo Nogueira (Paulinho Nogueira) gravação de 1977, de José Flores de Jesus (Zé Keti) 6/10/21. Rio de Janeiro e Hildebrando Pereira Matos.
Depoimento de Paulinho Nogueira a Iracema Nogueira Lima.
Zé Keti neto de flautista e de pianista e filho de tocador de Cavaquinho. Começou muito cedo a fazer música e com 15 anos já estava na Mangueira, levado por Geraldo Cunha, parceiro de Carlos Cachaça.
Aos 16 anos foi para a Portela, começando a desfilar pela Ala dos Compositores e a fazer as suas primeiras músicas.
Teve sua primeira composição gravada em 1946, em parceria com Felisberto Martins, interpretada pelos Vocalistas Tropicais.
Seu primeiro grande sucesso foi “A Voz do Morro” gravada por Jorge Goulart em 1955. Três anos depois teve a sua primeira música incluida no filme “Rio 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos.
FRANQUEZA 1957
Com Maysa Figueira Monjardim gravação de 2/4/58 de Augusto Duarte Ribeiro (Denis Brean) Campinas São Paulo 16/8/69 e Oswaldo Guilherme Campinas São Paulo 7/3/19
Depoimento de Oswaldo Guilherme a Mirian Megdaleni C.I. Sanches. Arranjo de Enrico Simonetti.
Oswaldo Guilherme fez sua primeira composição com Newton Teixeira em 1942, gravada neste mesmo ano por Isaura Garcia, “O Que Há Com Você”.
Mas foi no ano seguinte em 1943 que conheceu Denis Brean, seu parceiro em sucessos memoráveis como “Franqueza”, “Raízes” “A Mulher do Meu Amigo”, “Festa do Samba” , entre outros. Extremamente eclético. Oswaldo Guilherme tem varias outras composições individuais conhecidas, tendo inclusive composto o “Hino do Guarani Futebol Clube”, de Campinas, sua cidade Natal onde mora até hoje.
Também natural de Campinas, Denis Brean teve a sua primeira grande vitória como compositor com a marcha da Festa da Uva de Campinas. Mas, mesmo antes, Denis já era conhecido sob seu segundo nome Duarte como autor de “Boogie Woogie na Favela”.
Individualmente Denis Brean também fez carreira como jornalista, radialista, especializado em crítica de discos, tendo ajudado inúmeros compositores, músicos, intérpretes do rádio, disco e televisão.
Seu principal parceiro foi o Guilherme com quem deixou mais de cem músicas gravadas, muitas inéditas.
Além de Oswaldo Guilherme Denis compôs juntamente com Guilherme de Almeida. Paulo Bonfim, e David Nasser.
Suas gravações foram interpretadas por artistas como Francisco Alves, Elizeth Cardoso, as irmãs: Linda e Dircinha Batista, os Demônios da Garoa, Lana Bitencourt, e muitos outros.
A BANDA 1966
Composição, interpretação e depoimento de Chico Buarque de Hollanda Rio de Janeiro 19/6/44, a Cervantes. Arranjo de Chiquinho de Moraes. Gravado em 31/8/66
A casa de Chico sempre foi freqüentada por intelectuais, músicos, teatrólogos, etc.
Foi neste ambiente, dois quais seus pais participavam ativamente, tocando com amigos como Vinícius de Moraes, que Chico cresceu.
Sua irmã mais velha, Miucha foi sua professora de violão e também de teoria musical.
No inicio de sua carreira tentava imitar João Gilberto, sendo que suas primeiras composições, foram, “Canção dos Olhos” e “Anjinho Rafael”.
Sua primeira composição apresentada em publico foi “Marcha Para Um Dia de Sol”, no colégio Rio Branco, em São Paulo em outubro de 1964.
Após participar de inúmeros festivais e shows, Chico lançou seu primeiro disco, neste mesmo ano com as músicas “Pedro Pedreiro” e “Sonho de Um Carnaval”.
Mas seu primeiro grande sucesso nacional foi realmente “A Banda”, primeira colocada juntamente com “Disparada” no II Festival de Música Brasileira da TV Record São Paulo em 1966.
Desde então, a carreira de Chico tornou-se uma sucessão de êxitos nacionais.
São mais de 100 músicas, peças teatrais, shows de extrema beleza e sensibilidade, trilhas sonoras para cinema, realizadas individualmente ou com parceiros famosos, de autoria de Chico um nome que merece fazer parte de qualquer trabalho sobre música popular brasileira.
EU E A BRISA 1966
Com Maria Creusa Silva Lima, gravação 9/10/72, Alfredo José da Silva (Johnny Alf) Rio de Janeiro 19/5/29.
Depoimento de Zuza Homem de Mello a Aramis Millarch.
Johnny Alf começa sua carreira aos 9 anos de idade aprendendo piano com Geni Borges.
Logo demonstrou interesse por compositores americanos como George Gerswin e Cole Porter. Aproximadamente com 14 anos fundou com amigos de Vila Isabel um conjunto que tocava nos fins de semana na Praça Sete, no Andaraí.
Entrando em contacto posteriormente com o pessoal do Instituto Brasil-Estados Unidos, foi convidado a participar de um grupo artístico.
Nesta época adotou seu atual pseudonimo e juntamente com o seu grupo, fundou um clube para promoções de intercambio de música brasileira e norte americana.
Este clube teve inclusive nomes famosos como Tom Jobim, Nora Ney e Luis Bonfá, assim como Dick Farney, que em 1949 tornava-se também seu sócio.
Músico da noite, sempre convidado a participar do que havia de melhor em matéria de música, Johnny Alf foi construindo a sua carreira e já em 1953 duas músicas suas “Céu e Mar” e “Rapaz de Bem” começavam a destacar-se no cenário da música popular brasileira. Esta última composição é considerada como precursora da bossa nova pela sua estrutura harmônica e melodiosa.
Em 1961, Johnny é convidado a tocar no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Não aceita, preferindo ficar no Brasil, para alegria de quem gosta de música.
“Eu e a Brisa” foi interpretada pela primeira vez pela cantora Marcia no III Festiva de Música Popular da Record, São Paulo, apesar de desclassificada nas eliminatórias, tornou-se um enorme sucesso um mês depois do Festival.
Tienda Cafe Con Che
Porque é Imprescindível Sonhar