JOSE CARLOS LISBOA VERDE QUE TE QUERO VERDE
Ensaio de interpretação do ROMANCERO GITANO de GARCIA LORCA
ZAHAR EDITORES / PRO MEMORIA
INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO
1983
Foi Hermann Broch quem disse que a poesia lírica, a arte autêntica do verso, incumbe a extraordiaria missão ou o dever sublime de batismo e denominação das coisas - uma tarefa de que a poesia popular também participa em medida não desprezível. A criação linguística ocorre precisamente aí onde se desnudam novas camadas de uma realidade que só pode ser alcançada a partir do Eu, de sua solidão, de sua compaixão, em suma, do seu centro lírico. Os poemas que satisfazem a esta condição - e eles não faltam na longa série da poesia ocidental que veio de Safo até Garcia Lorca - oferecem-nos o maravilhoso espetáculo de sua adoção pura e simples pela arte popular, transfigurando-os tantas vezes em obras anônimas, algo que jamais ocorre às obras impregnadas de esteticismo, á arte decorativa e suntuosamente verbal mas carente de uma simplicidade tão misteriosa, quase mística, em que o lirísmo se identifica com os sentimentos cotidianos da criatura humana.
Essa identificação do poeta com a alma popular - especificamente a alma andaluza - é uma das grandes virtudes de Lorca, essa "criatura de criação", como lhe chamou Jorge Güillén, essa "ponte color de amor" entre a idade de ouro liberal e a universalidade hispânica. Pois se Lorca não foi um fenômeno isolado dessa idade de ouro que deu ao mundo um Ramon y Cajal e um Pérez de Ayala, uma Menendez Pidal e um Gómes de la Serna, um Valle-Inclán e um Santayana, um Pablo Picasso e um Juan Gris, um Pablo Casals e um Andres Segovia - idade de ouro sufocada pelas trevas do franquismo - ele foi, no entanto, a voz mais pura e mais castiça do povo espanhol, do gitano ao galego. e o Romancero Gitano constitui, talvez a pedra angular onde essa voz repercute com maior fidelidade os proprios ecos do "sentimento trágico da vida".
JOSE CARLOS LISBOA realiza neste magnífco ensaio uma "obra de amor", como o próprio autor sublinha, fruto de 30 anos de leitura dos 18 romances que compõe o Romancero Gitano, comentando-os e analizando-os com a autoridade de um mestre da língua e literatura espanhola mas, sobretudo, com carinho e a delicadeza de um apaixonado pela obra poética e dramática de Federico. Se ele tivesse sobrevivido ao cataclismo, teria visto, com "su alma antigua de niño, maduras de leyendas", que Antonio el Camborio triunfou, enfim, do silêncio e das trevas.
JOSE CARLOS LISBOA nasceu em Lambari, MG a 4 de novembro de 1902, filho de João de Almeida Lisboa e Maria Rita de Vilhena Lisboa. Outros membros de sua familia que também se dedicaram as letras são a poetisa Henriqueta Lisboa e Alaíde Lisboa de Oliveira, ambas professoras universitarias.
ZAHAR EDITORES.
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