segunda-feira, 21 de abril de 2008

VERDE QUE TE QUERO VERDE JOSE CARLOS LISBOA ZAHAR EDITORES



JOSE CARLOS LISBOA VERDE QUE TE QUERO VERDE
Ensaio de interpretação do ROMANCERO GITANO de GARCIA LORCA

ZAHAR EDITORES / PRO MEMORIA
INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO

1983


Foi Hermann Broch quem disse que a poesia lírica, a arte autêntica do verso, incumbe a extraordiaria missão ou o dever sublime de batismo e denominação das coisas - uma tarefa de que a poesia popular também participa em medida não desprezível. A criação linguística ocorre precisamente aí onde se desnudam novas camadas de uma realidade que só pode ser alcançada a partir do Eu, de sua solidão, de sua compaixão, em suma, do seu centro lírico. Os poemas que satisfazem a esta condição - e eles não faltam na longa série da poesia ocidental que veio de Safo até Garcia Lorca - oferecem-nos o maravilhoso espetáculo de sua adoção pura e simples pela arte popular, transfigurando-os tantas vezes em obras anônimas, algo que jamais ocorre às obras impregnadas de esteticismo, á arte decorativa e suntuosamente verbal mas carente de uma simplicidade tão misteriosa, quase mística, em que o lirísmo se identifica com os sentimentos cotidianos da criatura humana.
Essa identificação do poeta com a alma popular - especificamente a alma andaluza - é uma das grandes virtudes de Lorca, essa "criatura de criação", como lhe chamou Jorge Güillén, essa "ponte color de amor" entre a idade de ouro liberal e a universalidade hispânica. Pois se Lorca não foi um fenômeno isolado dessa idade de ouro que deu ao mundo um Ramon y Cajal e um Pérez de Ayala, uma Menendez Pidal e um Gómes de la Serna, um Valle-Inclán e um Santayana, um Pablo Picasso e um Juan Gris, um Pablo Casals e um Andres Segovia - idade de ouro sufocada pelas trevas do franquismo - ele foi, no entanto, a voz mais pura e mais castiça do povo espanhol, do gitano ao galego. e o Romancero Gitano constitui, talvez a pedra angular onde essa voz repercute com maior fidelidade os proprios ecos do "sentimento trágico da vida".
JOSE CARLOS LISBOA realiza neste magnífco ensaio uma "obra de amor", como o próprio autor sublinha, fruto de 30 anos de leitura dos 18 romances que compõe o Romancero Gitano, comentando-os e analizando-os com a autoridade de um mestre da língua e literatura espanhola mas, sobretudo, com carinho e a delicadeza de um apaixonado pela obra poética e dramática de Federico. Se ele tivesse sobrevivido ao cataclismo, teria visto, com "su alma antigua de niño, maduras de leyendas", que Antonio el Camborio triunfou, enfim, do silêncio e das trevas.
JOSE CARLOS LISBOA nasceu em Lambari, MG a 4 de novembro de 1902, filho de João de Almeida Lisboa e Maria Rita de Vilhena Lisboa. Outros membros de sua familia que também se dedicaram as letras são a poetisa Henriqueta Lisboa e Alaíde Lisboa de Oliveira, ambas professoras universitarias.
ZAHAR EDITORES.
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