LUIS ADONIS V. CORREIA QUEM ROEU A ROUPA DO REI?
Cliente e Mercado em Outro Rei Lear
EDITORA NEGOCIOS
ISBN8586014672
136 Pags
2001
Estrada e Tempestade
Difícil dirigir na estrada aquela noite. A tristeza que cingia o Rei não o deixava ver muita coisa. Olhava para o retrovisor de sua vida. Recordava. Era a esperança de identificar no vídeo de sua carreira onde falhara. Teria errado como pai, empresário ou ambos?
Naquele instante, um caminhão o ultrapassa, com a seguinte frase escrita no pára-choque: “Não sou o dono do mundo, mas sou o filho do dono”. Resmungou a si próprio:
|- Religiosidade ou mais uma empresa familiar?
Outro caminhão o ultrapassa. No pára-choque, escrito: “Mais vale um mal acordo que uma boa briga”. Ele se irritou:
- Mas o que é isso? Terapia sobre rodas?
A tempestade que se pronunciara enfim se fez presente. O vento e os raios testemunhavam agora os céus despejando as águas dos mares e das lágrimas. Não se lembrava de ter ligado o rádio, mas começou a ouvir uma canção:
“There’a a little Black spot in the Sun today
It’s the same old thing as yesterday…”
Dirigia, pronto para praguejar:
-O próximo caminhão que passar com esses minutos de sabedoria vai levar uma fechada.
O som, ainda baixo relatava:
“...Theres a Black hat caught in a hight tree top
There’s a flag pole rag and the wind won’t stop…”
A canção continuava, imune como o vento:
“...That’s my soul up there...”
Começou deixar de lado a vingança ao volante quando ouviu:
“There’s a king on the throne with his eyes torn out
There’s a blind man looking for a shadow of double…”
No lado direito da Estrada avistou um letreiro luminoso. Grande piscando e de luz intensa, o letreiro sobrevivia à tempestade. Estava lá: Bar. O que valeu o comentário:
- Talvez seja bom parar um pouco neste bar, esperar que o temporal acabe.
No mesmo letreiro agora aparecia> The Doors.
- Humm, Bar the doors. Deve ser um bar musical. Naomi falava muito desse grupo de rock.
Antes que se alongasse em qualquer inferência, surgiu no letreiro luminoso> of the castle. Leu e mal podia acreditar:
-Bar the doors of the castle?! (Tranquem as portas do castelo?!) Mas o que é isso?!
Encolerizado como um dos raios, saiu da estrada, freou o carro e o estacionou embaixo dos letreiro. Saiu sob a chuva intensa para tomar satisfação:
_ “Tranquem as portas do castelo”?! Quem você pensa que é, seu letreirozinho de m...! Quem é você para dar ordens?! Você me conhece? Alguém neste temporal, no meio do nada, me conhece?
Bom, como era de se esperar, o letreiro não respondeu. Aliás, nem piscou. Parecia ter sido desligado. Mas o rei continuava ligadão:
- Quem é você para impedir minha entrada? Se há um castelo, fui eu quem construiu!
E o letreiro, nada. Só na dele. Apagadão. E o Rei, chafurdado na ira e na chuva, ouvia claramente a canção...
“...I have stood here before inside the pouring rain
With the world turning circles running round my brain
I guess I always thought tha you could end this reign
But it’s my destiny to be the king of pain…”
Correu para o carro e o rádio continuava desligado. Mas ouvia cada vez mais alto. Desesperado, perguntava ao breu do céu:
- O que é isso? Uma pegadinha? Eu processo você. Não me importa quem você seja, meus advogados o processarão.
E sem qualquer abalo por parte dos céus, da tempestade e do letreiro, ajoelhou-se, rendido as forças maiores e desconhecidas. Alquebrado, suas lágrimas juntavam-se à chuva. No intervalo de trovões ainda ouviu-se o Rei proferir o final da canção:
- King of pain, I Will always be, King of pain.
ABRALE 100% de esforço onde houver 1% de chanceInformar e conscientizar são as melhores formas de ajudar.
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