domingo, 12 de abril de 2009

CARLOS REVERBEL O GAUCHO ASPECTOS DE SUA FORMAÇAO NO RIO GRANDE E NO RIO DA PRATA

CARLOS REVERBEL O GAUCHO 
Aspectos de sua formação no Rio Grande e no Rio da Prata
L&PM
Coleção Universidade Livre
ISBN8525400920
1986
SUMARIO
Um quebra-cabeça
O boi
O cavalo
Guerra de papel
Terra de ninguém
O gaúcho I
O gaúcho II
O gaúcho III
O gaúcho IV
O gaúcho V

Um Quebra-Cabeça  
Os etimologistas ainda não se entenderam a respeito da origem da palavra GAÚCHO. E, ao que tudo indica, jamais se entenderão. Seria então o caso de não se entrar na matéria, espécie de “procissão do desencontro”, como diria Oswald de Andrade. Mas as coisas devem começar pelo princípio, embora a afirmação seja acaciana e, não raro, importe em pura perda de tempo.
Nessa velha e surrada pendenga, a melhor política é a seguida por Augusto Meyer: depois de apontar as principais versões sobre a etimologia do complicado vocábulo, deu o assunto por encerrado, sem adotar nenhuma. E note-se que o grande escritor não era homem de deixar de opinar quando versava temas gauchescos, terreno em que se movia com o tino e a desenvoltura de Blau, o vaqueano.
De sangue germânico (seus avós era “brummers” aqui chegados em 1851, integrando a Legião Alemã, contratado pelo império para a luta contra Rosas), citadino dos quatro costados e senhor de vasta cultura humanística, havia em Augusto Meyer um sentimento regionalista, marcante em sua obra poética, que o levaria a realizar pesquisas e produzir ensaios (alguns seguramente fundamentais) sobre os temas mais apaixonantes do populário rio-grandense...
O Boi
Como o boi é, de certo modo (no sentido sociológico, digamos), pai do gaúcho, não se pode deixar de introduzi-lo nestas páginas, com as primazias e as homenagens devidas aos velhos patriarcas. Sem o aparecimento do boi e a multiplicação dos rebanhos, não teríamos chegado à idade do couro, origem e fundamento da civilização guasca do Rio Grande do Sul, de onde saiu o gaúcho. Aliás, segundo Augusto Meyer, o vocábulo GUASCA passaria a sintetizar a própria idade do couro. E não tardaria a tornar-se sinônimo do termo GAÚCHO, dentro e fora do Rio Grande. Além de ter coligido os versos do “Cancioneiro Guasca”, Simões Lopes Neto tinha sua literatura na conta de “Expressão da cultura guasca”. Foi assim que ele a definiu, na dedicatória dos “Contos Gauchescos” a J. F. de Assis Brasil.
A principio, a alcunha se apresentou eivada de reservas preconceituosas, por vir envolta em conotações rústicas, características da vida agreste da campanha, quando não significando coisas graves, como preador dos rebanhos alçados, changador dos campos abertos e até ladrão, com todas as letras. O termo GUASCA terminou, porém, ganhando novo sentido, como também aconteceria com o vocábulo GAÚCHO. E então a palavra GUASCA, já agora irmã gêmea da palavra GAÚCHO, também passaria a designar, com natural e geral aceitação, os filhos do Rio Grande do Sul. Se, por ventura, ainda houvesse qualquer restrição ao seu emprego, esta teria caído quando o vocábulo apareceu “na obra de um dos nossos escritores mais ponderados na economia da frase: Machado de Assis. No Quincas Borba, diz Dona Fernanda a Carlos Maria, referindo-se, em caloroso elogio, a uma filha do Rio Grande:  - É uma guasca de primeira ordem”.
GUASCA, de Huaska, vocábulo étimo quínchua, chegou ao Rio Grande através do Prata. Uma vez atravessada a fronteira, a palavra não tardaria a ganhar novo conteúdo semântico, passando, então,  a também designar o tipo social formado nas áreas pampeanas e nas regiões das savanas e coxilhas da campanha rio-grandense. No Uruguai e na Argentina, onde o étimo HUASKA originou o termo GUASCA, esta palavra continua despojada e seca, mantendo apenas, na sua pobreza, a significação primitiva: tira de couro cru, soga, como está no “Vocabulario y Refranero Criollo”, de Tiro Saubidet. Mas como síntese da idade do couro, também deu lugar, como no lado de cá da fronteira, à origem do complexo cultural de onde saiu o gaúcho. O folclorista Hélio Moro Mariante dedicou-se ao estudo da idade do couro no Rio Grande do Sul, apresentando copiosas informações a respeito.
Embora os Incas não tenham incursionado ao Prata, muitos vocábulos de sua língua geral – o quíchua – chegaram ao Uruguai e Argentina, trazidos pelos conquistadores espanhóis, introduzindo-se a seguir no Rio Grande e afinal se integrando na dialetologia gaúcha. É o caso, entre muitas, de palavras como CANCHA, CHASQUE, PORONGO, TAMBO, CHINA, MATE, CHARQUE, CHÁCARA. Contrariamente a quase todos os etimologistas, nada afirmativos, como vimos, em relação ao termo GAÚCHO, raramente se aventurando a sair do terreno das hipóteses e conjeturas, Sílvio Júlio é taxativo e peremptório: “GAÚCHO – outro termo de étimo quíchua, que os habitantes do Rio da Prata pronuncia gaucho, pois tiraram de guacho”. Em que pese sua probabilidade intelectual e sua erudição na matéria, esta afirmativa do autor de “Pampa” faz lembrar a história do único soldado de passo curto no seu pelotão. Foi consignada de passagem num dos seus estudos...

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