domingo, 14 de dezembro de 2008

LP SILVIO CALDAS CABELOS BRANCOS CBS MONO

LP  SILVIO CALDAS  CABELOS BRANCOS

 

CBS37559

 

 MONO 

 


Quando Sílvio Caldas terminou a última faixa dêste LP, saimos juntos dos estúdios da Columbia. Eram aproximadamente seis horas da tarde. Sílvio propôs um uísque em Copacabana, para comemorarmos o fim dos trabalhos de gravação <>, ignora naturalmente que é absolutamente impossível conseguir um taxi aqui no centro da cidade, nesta hora de <>...>>

Sílvio mostrou o sorriso bom e inteligente, caminhou alguns passos até a esquina mais próxima e esperou alguns segundos. O primeiro taxi que passou, de bandeira arriada, freou bruscamente, e um enorme crioulo, sorridente, indagou logo para onde o cantor queria ser transportado, Sílvio olhou para mim, significativamente, e deu o enderêço do bar onde iríamos <>.

Contando o fato banal, quero apenas mostrar a popularidade imensa que desfruta o cantor que, com o passar dos anos, mas se torna conhecido e admirado, mas aprimora sua arte, constituindo-se um caso entre as dezenas de intérpretes categorizados da nosso música popular. Se, na ocasião, em vez de taxi, houvesse passado um luxuoso carro particular, o resultado teria sido o mesmo, pois Sílvio é tão querido no morro ou nas gafieiras, como nos salões mais <> ou nos clubes e <> mais sofisticadas. E, em todo lugar, Sílvio é ele mesmo – homem simples e cordial, mas que não se subestima, homem que sabe o que vale.

Outra vez, ouvi o cantor responder a um interlocutor que duvidava de seus dotes de cozinheiro. <>, respondeu Sílvio. Íntimo das caçarolas e dos guisados, conhecedor dos mais complicados môlhos, dos quitutes mais saborosos, sabedor de uma infinidade de receitas, o homem que nunca leu o sutil Brillat-Savarin, que não conhece o livro de Alfonso Reyes, outro enamorado das coisas <>, é mestre, de forno e fogão e se sente tão à vontade numa cozinha como em um estúdio de gravação.

Também em uma oficina mecãnica, Sílvio Caldas é absoluto. Já vi o cantor consertar em três tempos o motor de um automóvel e sorrir satisfeito e orgulhoso quando elogiei os seus dotes múltiplos e variados. Dono da vida e da saúde, Sílvio sabe, como nenhum outro cantor entre nós, <> as suas aparições em público ou frente aos microfones, fator importante para o éxito de um artista. Quando aparece, o público está sempre com saudades dêle...

lembro-me de uma noite das mais felizes da minha vida, em relação às coisas da música. Entrara eu em uma <> de São Paulo, para ouvir Pixinguinha e seus parceiros da <>, que ali se exibiam. Sentei-me em uma mesa de fundo, para evitar que os grandes <>, meus amigos, me vissem. Queria naquela noite, ficar só, com a música admirável e autêntica que êles sambem produzir. Foi quando se levantou o rapaz de cabeça branca, êsse notável Sílvio Caldas, freguês, como eu, da elegante <>. Disse qualquer coisa ao ouvido de Pixinguinha e anunciou: <>. O grande amigo era eu. Não tinha, sequer, visto Sílvio, pensara que ninguém tinha notado a minha presença naquele escuro canto onde me metera, e eis que uma emoção das mais fortes, das mais gratas, se apodera de mim. Sílvio, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Donga, João da Baiana, Waldemar, todos aquêles expoentes da nossa música popular, tocando em homenagem a um modesto cronista das coisas do samba, do chôro e da serenata, às vêzes tão mal compreendido...

E lembro mais coisas acontecidas, que <>. Vejo, nitidamente, Sílvio abandonar a <> Chicote, da qual era um dos proprietários, deixando a <> cheia, para sair comigo e Fernando Lobo, sob os protesto do sócio, e sair justamente para cantar, mas só para nós dois, em sua residência, para cantar na intimidade, como êle gosta, comentando as diversas passagens das músicas, violão sôbre o peito largo de atleta que ainda é.

E recordo uma época mais longínqua, quando o moço magrinho, acompanhado ao piano por outro, ainda mais magro, no palco de um cinema em Copacabana, cinema modesto que um arranha-céu derrubou, cantava <>; Sílvio Caldas, o cantor, e Ary Barroso, o compositor, se completavam, e o samba carioca saia perfeito, o cantor fazendo o <> com um sapateado cheio de <>. <>, mais dias dos quais jamais me esquecerei.

Poderia lembrar uma infinidade de pequenos casos, que servem, no entretanto, para dar ao leitor uma idéia do homem e do artista Sílvio Caldas. Inclusive contar certa provocação que fiz

, quando o <> se exibia na incendiada <> Vogue. Para espicaçar o brio do artista, dei a entender que achava sua voz menos expressiva que antes, que êle já não tinha a graça de interpretação de outros tempos, que a sua longa carreira de cantor matara a emoção que demonstrava ao transmitir os versos de um Orestes Barbosa, por exemplo...Para quê fui dizer aquilo! Sílvio pegou o violão e, indiferente aos pedidos que vinham de todos os grupos, cantou, o olhar prêso ao meu, tôdas as maravilhas de seu grande repertório, mostrando que os anos e a experiência, longe de terem afetado ou diminuído a sua voz, longe de terem endurecido a sensibilidade do cantor, tinham justamente feito o contrário – estava êle cantando como nunca, dando o melhor de sua arte, com todos os recursos inexcedíveis de genuíno intérprete popular.


Gravando para a Columbia êste Lp que temos em mãos, Sílvio Caldas vem provar, de <>, que <>. Reunindo alguns <> da nossa música popular, criando novos números, em todos é o mesmo grande cantor de sempre. Apresentando composições que êle popularizou, como <>, de Orondino Silva e Alberto Ribeiro, e <>, traz de volta célebres melodias antes gravadas por outros grandes cantores. Mas, <> e <>, cantadas por Sílvio, são inteiramente diferentes, pois Sílvio Caldas tem um temperamento, Francisco Alves, o primeiro cantor dessas duas belas peças de Lamartine Babo e Fernando Lobo, respectivamente, outro completamente diverso, assim como Mário Reis, o grande estilista e criador de <> e <>, é em tudo diferente do atual intérprete. Todos três grandes cantores, têm sua personalidade marcante, daí a <> que constitui a inclusão neste microsulco dos dois sambas, o primeiro de Ismael Silva, Noel Rosa e Francisco Alves, o segundo apenas de Noel, aquêle que foi <>. E o Sílvio Caldas compositor também está presente, no samba que dá nome a êste Lp, samba que tem versos de Rogaciano Leite, e no outro, <>, que Billy Blanco que é um dos grandes <> da moderna música carioca, homem que tem tôda a malicia, tôda a inspiração e tôda a <> dos grandes sambistas, como prova no delicioso <>, incluído nesta seleção. Presentes também estão Pedro Caetano, sambista de raça, e Ataulfo Alves, o mestre de tantas páginas inspiradas, o criador de tantos sucessos, assim como Marino Pinto e Gilberto Milfont, dois grandes valores, assinando <>, que não é dos números menos importantes aqui reunidos.

Finalmente, quero salientar a interferência de um conjunto regional, composto de grandes instrumentistas, que criam a <> do samba, período que compreende a década de 1930-40, o cantor tem apenas os violões, a flauta, o cavaquinho e o acordeão, o pandeiro e o contrabaixo como acompanhantes. Apenas em <>, exigido pelo tema e pelo título, intervém um pistão. E note-se o emprêgo da surdina, na primeira parte, contrastando com o bocal livre da segunda, em obediência à letra magnífica de Billy Blanco. Numa época em que a preocupação das nossas gravadoras é apresentar grandes orquestrações, muitas vêzes de gôsto duvidoso, é pura a delicia a simplicidade e pureza dos acompanhamentos que encontramos neste novo Lp de Sílvio Caldas. Alguns pensam que <> o samba empregado em sua execução orquestra numerosa, com uma avalancha de violinos, com verdadeira invasão instrumentos de sôpro e percussão. Nada mais falso. O samba é como aquela moça simples, muito mais bela na sua naturalidade que sobrecarregada de enfeites e <> que a desfiguram.

E agora, Sílvio Caldas no prato do fonógrafo, Sílvio o cantor maior do Brasil. E, <> temos a vontade de conseguir o milagre proporcionado pelo disco – êle pode de novo recomeçar, para o prazer do ouvinte, certamente, como eu, um incondicional admirador do artista que, de <>, prova, mais uma vez, que <>.

Lucio Rangel.




CABELOS BRANCOS

FOI UMA PEDRA QUE ROLOU

SAUDADE DE VOCE

UMA JURA QUE FIZ

CHUVAS DE VERAO

SERRA DA BOA ESPERANÇA

 

COMPROMISSO COM A SAUDADE

TALENTO NAO TEM IDADE

REVERSO

PISTON DE GAFIEIRA

PASTORA DOS OLHOS CASTANHOS

QUANDO O SAMBA ACABOU


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