domingo, 8 de março de 2009

LP ALBERTO NEPOMUCENO CANÇÕES OLGA MARIA SCHROETER LARRY FOUNTAIN 1988 FUNARTE


LP ALBERTO NEPOMUCENO CANÇÕES


SOPRANO - OLGA MARIA SCHROETER
LARRY FOUNTAIN - PIANO

1988

FUNARTE
101281

Gravação realizada na Sala Cecilia Meireles em julho de 1987

Em 1894 ALBERTO NEPOMUCENO já musicava poesia de autores brasileiros, compreendendo, perfeitamente, a subordinação da música à idéia poética e a nobre função do piano integrado na unidade canção. Mas não evidenciava, senão ocasionalmente, preocupação nacionalista, o que viria a ocorrer a partir de 1902, quando se tornou diretor do então Instituto Nacional de Música.

Depois do canto em português, como conseqüência da sua coragem e do seu talento, o caminho aberto para fixação de constâncias melódicas já consagradas no jeito de ser e de sentir do nosso povo. Foi, como se sabe, uma dura luta contra o preconceito de que, para o canto, a melhor língua era a italiana e, por exceção, a francesa. Antes de Nepomuceno, D. José Amat e Francisco Manuel aparecem com seus precursores, tal qual Zelter e Zumsteeg para os alemães.

Repetindo Schubert para o Lied germânico e universal, e Fauré, Chausson e Duparc para a canção artística francesa, Alberto Nepomuceno deu ao Brasil sua canção artística. Mais especialmente no espírito da modinha. E já me ocorre insistir aqui num fato notório – mas não levado muito em consideração – que defendo há muitos anos. Sabemos o que é seresta e o que é modinha, porém nós brasileiros não cuidamos de distinguir um título do outro conforme seu material interior, sua essência musical. Não me refiro ao tipo de canção, mas ao seu conteúdo expressivo. Ora, ambas vieram da manifestação popular espontânea.

Primeiro – todos reconhecem como verdade – aportou por aqui a moda ou mote no bojo das caravelas do descobrimento. Veio tomando gosto nos salões abastados, identificando-se com os novos costumes, a crescer com o tempo e a sublimar-se nas formas mais artísticas ao som do cravo e do piano, até se aproximar do intimismo liederesco europeu, conforme proposta schummaniana que serve, aliás, para toda a música do seu tempo.

A seresta, mais recente, é a modinha devolvida à rua pelas janelas dos salões, (imagem antiga...) refeita pelo humilde dos violões, dos cavaquinhos e de outros instrumentos do choro urbano. Tem por palco o céu aberto. Iluminado (?), sem fim(?), e dentro dele, todinho...o amor! Em geral sofrido e sem nenhuma restrição de comportamento, por isso eloqüente, agressivo e sensual.

No artesanato da composição podem ocorrer – na busca de uma unidade final – predominâncias ocasionais de estilos ou misturas tendenciosas de acordo com a formação do autor, sua natureza interior e sua cultura. Exemplifico: Villa-Lobos chamou de Modinha a uma das suas serestas. Para mim é apenas um título que respeito, porém sua mensagem me atinge mais como seresta...o que de fato ela é no conjunto das 14 canções!...

OLGA MARIA SCHROETER – dona de belíssima folha de serviços à música brasileira - , interpretando aqui Nepomuceno, preferiu combinar canções muito amadas como Soneto e Coração Triste com outras originais escritas em francês e alemão, menos o excelente pianista Larry Fountain.

Não nos devemos surpreender com o clima europeu – às vezes schummanniano, às vezes brahmsiano – por demais evidente em algumas canções. Considero tal fato o início de um caminho ambicionado e percorrido naturalmente pelo notável compositor brasileiro até sua melhor realização vocal nacionalista, Jangada, última canção – não incluída aqui - , manifesta esse desejo, apelando para uma das escalas mais comuns na música nordestina. Refiro-me ao modo hipolídio que se caracteriza pela alteração do quarto grau da escala maior.

*Ora, dize-me a verdade, opus 12, nº1, com poesia de João de Deus, foi composta em Paris, no ano de 1894. No piano solo da introdução foram criados alguns dos intervalos expressivos da voz cantada que vem logo após. Cada um segue seu curso – canto e piano – entrelaçados e sofridos até o dolorosamente do final.

*Numa Concha, sobre poesia de Olavo Bilac, foi escrita no Rio de Janeiro em 1913. Cromatismo harmônico e melódico, sobretudo na ambientação pianística, dão a peça uma instabilidade tonal incomum em Alberto Nepomuceno.

*Soneto, opus 21, nº3, é a canção oferecida à esposa de Coelho Netto, poeta ilustre, autor da letra. Ternura bem brasileira, temores de amor perdido, doce sofrimento, sensibilidade intimista. É bem nossa...das mas queridas...Composta em Petrópolis, em 1901.

  • Algumas tintas impressionistas na diluição ocasional dos contornos e nas modulações servem ao pleorama celeste proposto em Ocaso, unindo música e poesia. Esta canção de 1912, escrita no Rio de Janeiro, surpreende no seu final. Diz o poeta: “E as estrelas contemplam debruçadas / O cadáver do herói”...Duplo ocaso. Astrofísico e humano...


  • Voltamos a Paris, ano de 1894. Luiz Guimarães Filho é o autor dos versos. Madrigal, tem como proposta de andamento a expressão “Com Faceirice”, que serve bem para as intenções do canto. O piano ampara a voz e modula rapidamente, com sensibilidade, nas terminações femininas, bem ao gosto de Schummann.

    *Coração Triste é de 1899. Foi escrita em Petrópolis, Machado de Assis é o autor dos versos. Nepomuceno, compõe sensível e penetrante melodia, que se expande gradualmente com os versos até um fortíssimo. Depois recua e cede, e volta a crescer. Termina suavemente, com tristeza. A lamentar, apenas, as vocalizações em “nascer” e “pavorosa” que finalizam dois versos de Machado. Em se tratando de canção, outras soluções poderiam ser encontradas através do piano.

        *Sempre é muito bem realizada. O piano toma parte significativa, expondo a idéia principal          e nela insistindo. O canto, que atravessa momentos cromáticos, grandes saltos melódicos e           difíceis articulações, pode, apesar disso, expandir-se com nobreza. Letra de Afonso Celso.                Data: Petrópolis, 1904.

        *Razão e Amor é obra póstuma. Traz a data de junho, 1911. É simplíssima e graciosa.                  Nada mais a dizer.

Seguem-se quatro canções em francês, Les yeux élus (Os olhos eleitos), de 1895, com letra de Henri Piazza. Désirs d'hiver (Desejos de inverno), de 1894, sobre texto de Maeterlinck. Ainda com letra de Henri Piazza, Le miroir d'or (O espelho de ouro), datada de 1895, e Aime-moi (Ama-me), sobre poesia de Emília Arnal. As três primeiras foram escritas em Paris e a última no Rio de Janeiro.

-Completando o disco, outras quatro em língua alemã: Wiege sie sanft (Embale suavemente) é uma berceuse de 1894, ainda de Paris, sobre poesia de Nicolau Lenau, autor, também, de Gedich (Poema) e de Herbst (Outono), últimas desta série parisiense e compostas naquele ano de 1894. encerrando, a mais antigas das canções aqui apresentadas. Traz a data de 1893 e foi escrita em Berlim. Não temos o nome do poeta. Seu título Getreumtes glück pode ser traduzida por Felicidade sonhada.

Rio de Janeiro, fevereiro de 1988

Alceo Bocchino.


OLGA MARIA SCHROETER Nascida em Erexim (Rio Grande do Sul), graduou-se pelo Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre, com uma bolsa de estudos do governo do seu estado, transferiu-se para o Rio de Janeiro a fim de estudar canto com Murillo de Carvalho. Premiada em diversos concursos de canto, passou a se apresentar como recitalista e solista das mais importantes orquestras brasileiras, atuando sob regência de Alceo Bocchino, Eugen Szenkar, Eleazar de Carvalho, Jacques Pernoo, Henrique Morelenbaum, Isaac Karabtchevsky e outros. Gravou vários discos de música brasileira e participou intensamente de programas da Rádio MEC dedicados à criação musical nacional, especialmente os da série Música e músicos do Brasil. Dedicando-se preferencialmente ao gênero camerístico, te sido apontada com freqüência entre os nossos melhores intérpretes do lied e da canção de câmera brasileira.


LARRY FOUNTAIN Nascido em Nova Iorque, diplomou-se pelo pela Manhattan School of Music, concluindo seus estudos sob a orientação de Robert Goldstand, em 1965. No ano seguinte, iniciou sua carreira pianística, como solista, passando a ser contratado pelo Metropolitan Opera House para acompanhar artista do porte de Renata Tebaldi, Montserrat Caballe e Oralia Dominguez. Nos Estados Unidos, trabalhou ainda na Dallas Civic Opera, como maestro preparador. Estabelecido no Brasil desde 1970, tem-se destacado como um dos maiores acompanhadores da cena musical brasileira, atuando ao lado de Carol Mc Davit, Celso Woltzenlogel, Olga Maria Schroeter, Gretchen Miller e outros.


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