Educação: Esse é o nosso jeito de melhorar o futuro
Uma casa assobradada, um tapete persa de extravagante fundo azul, um divã encaixado em delicada moldura de madeira trabalhada e uma exuberante garota num vestido vermelho brilhante, que fazia sobressair extraordinariamente a palidez do rosto. Eis a primeira impressão de Ornella Vanoni, ao tempo do “Piccolo Teatro”, quando, após contatos fortuitos com a canção, se dispunha a estrear com uma série de recitais. Ela falava com entusiasmo, com conhecimento do assunto, com convicção, mas eu não a acreditava. Não a podia acreditar. Sabia muito bem que para cantar êsse tipo de canções são necessárias uma série de qualidades e características que não se improvisam: assobiar, fazer caretas e trejeitos, bambolear. Entretanto, a garota que me falava da sua futura atividade de cantora tinha mãos muito delicadas para segurar um microfone, olhos muitos alegres para saberem chorar sem um motivo verdadeiro, uma boca por demais inquieta e perturbadora para saber gritar com sinceridade a dôr que não sente, como requerem as canções. Não obstante, aquela garota externava uma ânsia de viver, uma tal vontade de projetar-se, que eu me via obrigado repentinamente a mudar de idéia. E o desafio que se lia em seus olhos colocava-a imediatamente nas fileiras de um certo tipo de mulher-combativa que sempre deu sua contribuição à história social, de uma forma ou de outra.
Lembra-se de “Senza Fine”? Foi exatamente essa canção de Gino Paolí que estabeleceu definitivamente a dimensão de Ornella Vanoni a cantora. Até então, não obstante as canções, ela era preferida no papel de atriz, ligada como era à gente “bem” de Milão, à Milão intelectual e ao rótulo embaraçoso de bela dama. Embaraçoso para o público de música popular, habituado a garotas menos sofisticadas, não para ela, que enfrentava o canto e a letra como a mesma instintiva naturalidade e desenvoltura de dona de casa, única profissão para a qual a havia preparado a sua educação burguêsa. Por isso, o público a aceitava como intérprete do “idiota” de Archard ou de “La fidanzata Del bersagliere”, de Anton, aceitava-a em suma como atriz, brilhante e única, e lhe permitia de quando em quando descer do seu pedestal dourado para cantar uma canção, como divertimento, como distração. Nada mais. Mas à opinião do público Ornella opunha a própria convicção, o próprio temperamento, a necessidade de lançar-se a uma aventura, sem medo, mesmo ao preço de queimar-se. Uma vez situada em nova dimensão, a cantora deveria superar a atriz, descendo do palco intelectualizado e defrontando o público dos festivais e dos “juke-boxes”. Então gravou “Ricorda”. Poderia ter sido o fim. Foi, ao contrário, um comêço. Aventurou-se no festival de Nápoles e venceu com “Tu si na cosa grande” ao lado de Domenico Modugno, enfim, num abrir e fechar de olhos conquistou Sanremo cantando uma canção de grande efeito, “Abbracciami forte”, com a qual o público fremiu.
De volta a Sanremo, confirmou definitivamente a sua personalidade, popularidade, e seus grandes dotes interpretativos com “Io ti daro di piu”, uma canção considerada unânimemente pelos críticos como uma das melhores do concurso. Sua recente presença em cinco apresentações do “Studio Uno” consagraram-na efetivamente como um dos maiores expoentes da música popular italiana. Uma intérprete que quando canta , não deixa o público se esquecer de que mereceu o prêmio S. Genesio como a melhor atriz italiana. Atualmente é uma cantora que se afirmou. As dúvidas foram resolvidas, desvencilhou-se mesmo da última partícula de embaraço que a separava do grande público popular. Ouvimo-la no verão na praia, e no inverno, no trenzinho que sobre as altas montanhas balançando-se entre os pilares, embalado pela sua voz. Nós a sentimos no rádio, a vemos na televisão. Suas canções penetram à noite em nossa casa e não se despedem na manhã seguinte, como demonstram as vozes das crianças que vão à escola, do rádio do velho coronel aposentado que até há poucos meses atrás só sabia fazer a barba ouvindo uma ária erudita. Entrou, em resumo, à força na nossa vida diária, conquistou um posto, tornou-se um hábito da nossa época. Exatamente como a mulher-combativa, de que falamos, que de tempos à tempos salta para fora das páginas da nossa história do dia a dia e impõ-se à atenção do mundo.
Orchestra e coro diretti da Gianni Marchetti
Iller Patacini
Willy Brezza
Bruno Canfera
Lado 1
FINALMENTE LIBERA
GUARDO TE CHE NE VAI
GENTE
IO NO
TU NO HAI CAPITO NIENTE
PER QUESTO VOGLIO TE
Lado 2
IO DI DARO DI PIU
1 2 3
TU CHE M HAI PRESO IL CUOR
TUTTA LA GENTE DEL MONDO
QUESTO E IL MOMENTO
LA RONDA DELL AMORE
Uma casa assobradada, um tapete persa de extravagante fundo azul, um divã encaixado em delicada moldura de madeira trabalhada e uma exuberante garota num vestido vermelho brilhante, que fazia sobressair extraordinariamente a palidez do rosto. Eis a primeira impressão de Ornella Vanoni, ao tempo do “Piccolo Teatro”, quando, após contatos fortuitos com a canção, se dispunha a estrear com uma série de recitais. Ela falava com entusiasmo, com conhecimento do assunto, com convicção, mas eu não a acreditava. Não a podia acreditar. Sabia muito bem que para cantar êsse tipo de canções são necessárias uma série de qualidades e características que não se improvisam: assobiar, fazer caretas e trejeitos, bambolear. Entretanto, a garota que me falava da sua futura atividade de cantora tinha mãos muito delicadas para segurar um microfone, olhos muitos alegres para saberem chorar sem um motivo verdadeiro, uma boca por demais inquieta e perturbadora para saber gritar com sinceridade a dôr que não sente, como requerem as canções. Não obstante, aquela garota externava uma ânsia de viver, uma tal vontade de projetar-se, que eu me via obrigado repentinamente a mudar de idéia. E o desafio que se lia em seus olhos colocava-a imediatamente nas fileiras de um certo tipo de mulher-combativa que sempre deu sua contribuição à história social, de uma forma ou de outra.
Lembra-se de “Senza Fine”? Foi exatamente essa canção de Gino Paolí que estabeleceu definitivamente a dimensão de Ornella Vanoni a cantora. Até então, não obstante as canções, ela era preferida no papel de atriz, ligada como era à gente “bem” de Milão, à Milão intelectual e ao rótulo embaraçoso de bela dama. Embaraçoso para o público de música popular, habituado a garotas menos sofisticadas, não para ela, que enfrentava o canto e a letra como a mesma instintiva naturalidade e desenvoltura de dona de casa, única profissão para a qual a havia preparado a sua educação burguêsa. Por isso, o público a aceitava como intérprete do “idiota” de Archard ou de “La fidanzata Del bersagliere”, de Anton, aceitava-a em suma como atriz, brilhante e única, e lhe permitia de quando em quando descer do seu pedestal dourado para cantar uma canção, como divertimento, como distração. Nada mais. Mas à opinião do público Ornella opunha a própria convicção, o próprio temperamento, a necessidade de lançar-se a uma aventura, sem medo, mesmo ao preço de queimar-se. Uma vez situada em nova dimensão, a cantora deveria superar a atriz, descendo do palco intelectualizado e defrontando o público dos festivais e dos “juke-boxes”. Então gravou “Ricorda”. Poderia ter sido o fim. Foi, ao contrário, um comêço. Aventurou-se no festival de Nápoles e venceu com “Tu si na cosa grande” ao lado de Domenico Modugno, enfim, num abrir e fechar de olhos conquistou Sanremo cantando uma canção de grande efeito, “Abbracciami forte”, com a qual o público fremiu.
De volta a Sanremo, confirmou definitivamente a sua personalidade, popularidade, e seus grandes dotes interpretativos com “Io ti daro di piu”, uma canção considerada unânimemente pelos críticos como uma das melhores do concurso. Sua recente presença em cinco apresentações do “Studio Uno” consagraram-na efetivamente como um dos maiores expoentes da música popular italiana. Uma intérprete que quando canta , não deixa o público se esquecer de que mereceu o prêmio S. Genesio como a melhor atriz italiana. Atualmente é uma cantora que se afirmou. As dúvidas foram resolvidas, desvencilhou-se mesmo da última partícula de embaraço que a separava do grande público popular. Ouvimo-la no verão na praia, e no inverno, no trenzinho que sobre as altas montanhas balançando-se entre os pilares, embalado pela sua voz. Nós a sentimos no rádio, a vemos na televisão. Suas canções penetram à noite em nossa casa e não se despedem na manhã seguinte, como demonstram as vozes das crianças que vão à escola, do rádio do velho coronel aposentado que até há poucos meses atrás só sabia fazer a barba ouvindo uma ária erudita. Entrou, em resumo, à força na nossa vida diária, conquistou um posto, tornou-se um hábito da nossa época. Exatamente como a mulher-combativa, de que falamos, que de tempos à tempos salta para fora das páginas da nossa história do dia a dia e impõ-se à atenção do mundo.
Orchestra e coro diretti da Gianni Marchetti
Iller Patacini
Willy Brezza
Bruno Canfera
Lado 1
FINALMENTE LIBERA
GUARDO TE CHE NE VAI
GENTE
IO NO
TU NO HAI CAPITO NIENTE
PER QUESTO VOGLIO TE
Lado 2
IO DI DARO DI PIU
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TU CHE M HAI PRESO IL CUOR
TUTTA LA GENTE DEL MONDO
QUESTO E IL MOMENTO
LA RONDA DELL AMORE
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